domingo, 19 de dezembro de 2010

Perspectivas 2011: ano de ajustes fiscal e monetário

No início de dezembro tivemos algumas respostas a perguntas que se colocaram no cenário econômico ainda em novembro. A primeira delas referia-se a um possível aumento da taxa de juros básica da economia (taxa SELIC) na última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) realizada nos dias 07 e 08. Apesar de vários economistas do mercado (inclusive eu) considerarem oportuno um aumento da SELIC ainda neste ano, dado o cenário de aceleração inflacionária verificado no último trimestre, e pela característica da política econômica brasileira ancorada no sistema de metas de inflação, tal fato não ocorreu. Ou seja, o COPOM decidiu, por unanimidade, manter a taxa SELIC em 10,75%, postergando um inevitável aumento para a 1ª reunião do COPOM do governo Dilma, a ser realizada nos dias 18 e 19 de janeiro de 2011. A perspectiva é que tal aumento seja de, no mínimo, 1 ponto percentual. Observa-se que na semana seguinte à reunião do COPOM, a própria ata da reunião apontou para uma piora no cenário de inflação e identificou que há riscos futuros para a situação desejável de convergência da inflação para o centro da meta estipulada pelo governo para 2011, de 4,5%.

Como também já alertado em um post anterior neste mesmo blog, o governo deverá trabalhar com uma perspectiva mais voltada a evitar, ao máximo, aumentos sucessivos da taxa de juros. Outras medidas deverão ser tomadas antes de um inevitável aumento da SELIC. Confirmando esta tese, o Banco Central, desde o dia 13 de dezembro, aumentou o compulsório exigido dos bancos sobre depósitos à vista (de 8% para 12%) e sobre depósitos a prazo (de 15% para 20%), além de exigir mais garantias das instituições financeiras no momento de realizarem empréstimos. O resultado esperado é uma redução imediata no volume de dinheiro disponível para empréstimos, sendo retirado da economia algo em torno de R$ 61 bilhões. Ou seja, no campo macroeconômico, tratam-se de medidas alternativas para impedir um crescimento maior da taxa de inflação, sendo denominadas “medidas macroprudenciais”.

Na prática, pode haver aumento de juros para os consumidores, por causa da redução da liquidez nas operações de empréstimos dos bancos. Para o Ministro Mantega, o rigor fiscal a partir de 2011 abrirá espaço para o aumento da poupança pública e a redução dos juros. Para ele, a redução do gasto público impulsionará o consumo e o investimento privados.

Portanto, tentando responder à pergunta que coloquei neste mesmo blog sobre o comportamento futuro esperado do governo Dilma para a economia: não acho que o governo adotará a ortodoxia, ou seja, não seguirá à risca a política monetária de aumentar os juros para controlar a inflação. Para mim, serão tomadas outras decisões antes desta. A ordem deverá ser crescer para depois controlar. Particularmente, preferia a alternativa anterior: controlar para depois crescer.

Um bom Natal a todos, comprem moderadamente, e que 2011 não nos traga surpresas no campo econômico; é o mínimo que espero!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Termômetro Econômico - Novembro de 2010

Os destaques do mês de novembro referem-se à indicação, pela Presidente eleita Dilma, da “nova” equipe econômica, a crescente preocupação do governo e de analistas do mercado quanto à aceleração da inflação, as medidas anunciadas pelo próximo governo para controle do crédito e da inflação, e redução dos gastos públicos, e a divulgação dos dados do PIB do 3º trimestre de 2010. Continua ainda preocupante a questão cambial e de valorização do Real frente ao Dólar.
  • Presidente Dilma escolhe equipe econômica para o próximo governo: A “nova” equipe econômica do governo Dilma contará com o atual Ministro da Fazenda Guido Mantega para o mesmo cargo, o então diretor de Normas do Banco Central, Alexandre Tombini, para a presidência do BC, e Miriam Belchior, até então subchefe de Articulação e Monitoramento da Presidência e coordenadora do PAC, para o Ministério do Planejamento. Quanto ao novo presidente do BC, analistas do mercado acreditam que ele terá que manter uma sintonia mais afinada com o ritmo desejado pela Fazenda para o rumo da economia, ou seja, com menos atritos como os ocorridos entre Henrique Meirelles e Mantega durante o governo Lula. Já o Ministro Mantega deverá ter sua atuação delimitada por dois preceitos básicos: reduzir a dívida interna líquida para 30% do PIB até 2014, para permitir juros reais de 2% ao ano no fim do mandato da Presidente Dilma. Nessa moldura predefinida pela Presidente, o esforço fiscal (lê-se, em outras palavras, corte de gastos e/ou aumento de arrecadação e/ou impostos) será o necessário para abater a dívida em 11 pontos percentuais do produto (atualmente em 41% do PIB). Nas contas da área técnica da Fazenda, com a perspectiva de crescimento da economia brasileira da ordem de 5% ao ano e superávit fiscal de 3,3% do PIB, seria possível cumprir tal determinação. Esse conjunto de intenções deverá implicar, também, a retomada do processo de redução da meta de inflação, que permaneceu inalterada em 4,5% durante os oito anos da gestão do Presidente Lula. Em junho de 2011, Dilma terá que decidir sobre a meta de 2013 e nesse momento poderá fixar para o IPCA uma variação de 4%, introduzindo de forma gradual a trajetória de desinflação na pauta da política econômica. O Banco Central quis fixar a meta de 4% para o IPCA de 2012, mas não teve, à época, o apoio do então ministro da Fazenda.
  • IPCA fecha novembro em 0,83%, e aumenta preocupação quanto à aceleração inflacionária: Índice que mede a inflação oficial brasileira subiu 0,83% em novembro, acima da taxa de 0,75% verificada em outubro. No ano, o IPCA acumula alta de 5,25%, bem acima da taxa de 3,93% referente ao mesmo período de 2009. No acumulado dos últimos 12 meses, a taxa está em 5,63%, também acima do acumulado dos 12 meses imediatamente anteriores (5,20%), e do centro da meta estipulada pelo Banco Central, de 4,50% para 2010. O último boletim Focus de novembro, divulgado pelo Banco Central, apresentou projeção de 5,78% para a inflação em 2010, ante 5,29% anunciado no início do mês. Além disso, há 12 semanas este relatório vem apresentando expectativas de aumento da inflação brasileira para 2010. Observa-se que o índice esperado pelo governo, de 5,1%, ficará muito abaixo do real valor para este ano. Os alimentos continuam sendo os principais responsáveis pela alta do IPCA, respondendo por 61% do aumento do índice em novembro. Esta aceleração inflacionária desafia a visão do Banco Central, que apostou em um cenário mais tranqüilo para os preços em 2010 e 2011, baseado nos resultados próximos a zero dos indicadores entre julho e agosto. Entretanto, com o desemprego no menor nível da história e a renda em elevação, o consumo deve manter-se aquecido, pressionando a inflação.
  • 1ª reunião do COPOM no governo Dilma deverá decidir pelo aumento da SELIC: A reversão das expectativas de inflação para 2011 será um dos desafios da Presidente eleita Dilma Rousseff, já no início do seu mandato. No mercado, a expectativa é que o BC seja obrigado a elevar a taxa básica de juros (SELIC) para pelo menos 12% ao ano durante 2011. Apesar do avanço da inflação verificado nos últimos meses, ficou decidido, na última reunião do COPOM de 2010, realizada nos dias 07 e 08 de dezembro, manter a taxa SELIC em 10,75%. Mas o consenso é que o COPOM promova a retomada no ciclo de alta da SELIC a partir do encontro que acontecerá nos dias 18 e 19 de janeiro de 2011.
  • PIB brasileiro acumula alta de 8,4% até o 3º trimestre: O PIB brasileiro alcançou em 2010, até setembro último, crescimento de 8,4% em relação ao mesmo período do ano passado, chegando ao valor de R$ 937,2 bilhões. Na mesma base de comparação, a Indústria cresceu 12,3%, a Agropecuária 7,8%, e os Serviços 5,7%. Especificamente no 3º trimestre, o PIB cresceu 0,5% ante o 2º trimestre do ano, com destaque para o setor de Serviços (+1,0%). Indústria (-1,3%) e Agropecuária (-1,5%) apresentaram quedas neste período. O crescimento do PIB confirma o diagnóstico do Banco Central de que a economia brasileira se desloca para uma trajetória mais condizente com o equilíbrio de longo prazo. O fato de o investimento seguir apresentando desempenho bastante positivo indica que o bom momento da economia deve prosseguir ao longo dos próximos trimestres. Ainda segundo o último boletim Focus do mês, a previsão do Banco Central para o PIB em 2010 passou de 7,60% (final de outubro) para 7,54% (final de novembro). Para 2011, o Banco Central mantém, pela 52ª semana, projeção de crescimento de 4,50%.
  • Governo pode “ganhar tempo” contra movimento de valorização do Real: O Dólar fechou novembro em R$1,7140, ante R$1,7036 em outubro e R$1,6900 em setembro. Já o Euro fechou o mês a R$2,2364, ante R$2,3658 em outubro e R$2,2995 em setembro. Especificamente com relação ao Dólar, o Banco Central subiu a previsão de fechamento da taxa de câmbio no final do ano de R$ 1,70 (em outubro) para R$ 1,71 (em novembro). E para 2011, a previsão é que não ultrapasse o patamar de R$ 1,75. O governo brasileiro, entretanto, pode ganhar tempo no câmbio com o novo capítulo da crise financeira européia, desta vez com foco na Irlanda. Diante de um cenário novamente incerto, o fluxo de recursos externos ficou mais justo e o Dólar já sofreu correção, impactando numa desvalorização do Real. No último mês, o preço da moeda se descolou cerca de 5% frente à mínima do ano registrada em 13 de outubro, de R$ 1,655. Parte desse efeito se deve à elevação da alíquota do IOF sobre aplicações de estrangeiros em renda fixa, feita pelo governo ainda em outubro. Mas também é correto creditar tal efeito à maior aversão ao risco, visto que os investidores estão com o pé atrás de olho na crise européia, potencializada pela disposição da China em brigar com a inflação.