segunda-feira, 10 de outubro de 2011

TERMÔMETRO ECONÔMICO - Setembro de 2011

O mês de setembro destaca a forte valorização do Dólar perante o Real, modificando a trajetória observada desde o início do ano até agora. Outros indicadores de setembro: inflação (com maior crescimento e expectativa cada vez mais forte de pressão para o final do ano), PIB (com novas estimativas de redução para 2011 e 2012, demonstrando sinais claros de desaceleração), inadimplência (em elevação), e mercado de trabalho (com novas projeções indicando que talvez o saldo de 2011, apesar de positivo, não alcance o patamar verificado em 2010).
  • Desvalorização do Real marca o mês de setembro: Ao contrário do que vinha acontecendo durante todo o ano de 2011, o Real se desvalorizou em setembro perante o Dólar, saindo de R$ 1,5864 no final de agosto para R$ 1,8800 no final de setembro. Com isso, a moeda americana se tornou a principal aplicação do mês, com ganho de 16,26%, e garantindo até o fechamento deste boletim, ganho de 13,78% no ano. O Euro também se valorizou perante o Real, fechando o mês de setembro em R$ 2,4938, ante R$ 2,2851 verificado em agosto. Especificamente com relação ao Dólar, a previsão para a taxa de câmbio, feita pelo Banco Central para 2011, aumentou para R$ 1,73, conforme o último Boletim Focus de setembro. E para 2012, a nova taxa de câmbio passou de R$ 1,65 (início de setembro) para R$ 1,70 (final de setembro).
  • Seis razões que explicam a valorização do Dólar em setembro: Algumas razões explicam esta mudança na taxa de câmbio, e a forte desvalorização da moeda brasileira. Em primeiro lugar, a busca por ativos mais seguros, como títulos do governo americano e Dólar, devido às turbulências verificadas nas bolsas de todo o mundo, principalmente pelas más notícias produzidas na Zona do Euro. Em segundo lugar, há uma tendência de saída de recursos do Brasil para capitalização das empresas no exterior (multinacionais), e essa falta de liquidez pressiona a alta da moeda americana. Em terceiro lugar, existe a própria especulação do mercado, que se aproveita desse momento para também influenciar na taxa de câmbio. Em quarto lugar, acredita-se que o Dólar estava muito barato e que a alta deste mês faz parte de um ajuste natural, sendo o valor de R$1,80 o novo piso do mercado. Em quinto lugar, alguns economistas afirmam que, na realidade, não é o Dólar que se fortaleceu, mas sim o mundo que ficou mais fraco, e com isso, há uma procura maior pelo Dólar, moeda que historicamente sempre foi forte. E em último lugar, o corte na taxa de juros SELIC, feito pelo governo brasileiro na última reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária), tornou o país um pouco menos atraente para o Dólar dos investidores estrangeiros, dada a remuneração que ficou menor. Como a tendência (infelizmente) é que o governo continue cortando juros, o país fica cada vez menos atrativo para o Dólar, tornando-o, em contrapartida, mais forte.
  • Dólar mais forte deve deixar Natal mais caro para os consumidores: As mercadorias importadas possivelmente chegarão às prateleiras das lojas mais caras neste Natal, devido à forte valorização do Dólar verificada em setembro. Vestuário, alimentos, bebidas, ornamentos natalinos trazidos da China e produtos fabricados com componentes importados (como aparelhos de informática e eletrônicos) são alguns dos tipos de produtos que deverão estar mais caros a partir de agora. Analistas do mercado ainda não têm clareza de quanto será este aumento, até porque as empresas não sabem em que ponto a taxa de câmbio irá se estabilizar, além dos repasses dependerem do poder de negociação de cada varejista e do interesse de cada indústria em ganhar participação de mercado e/ou lucrar com o Natal. Vale ressaltar que a possível elevação dos preços será mais um componente a pressionar a inflação no final do ano.
  • IPCA de setembro fica em 0,53%: Índice que mede a inflação oficial brasileira continua subindo, e em setembro apresentou variação positiva de 0,53%, ante 0,37% verificado em agosto, e 0,16% em julho. Com isso, o resultado em 2011 aponta uma inflação acumulada de 4,97%, bem acima da taxa de 3,60% verificada no mesmo período do ano passado. Além disso, já ultrapassou o centro da meta estipulada pelo governo para o ano, que era de 4,50%. Considerando os últimos 12 meses, o IPCA situa-se em 7,31%, o mais alto desde maio de 2005. Fica evidente que a análise feita pelo Banco Central de que a inflação não iria se acelerar no final de 2011 foi, no mínimo, equivocada, e que a decisão de corte de 0,50 ponto percentual na taxa SELIC caracteriza-se cada vez mais como uma decisão política, e não apenas econômica.
  • Grupos ‘Transportes’ e ‘Alimentação e Bebidas’ foram os vilões da inflação em setembro: Os transportes aumentaram 0,78% em setembro, e contribuíram com 0,15 ponto percentual no IPCA do mês, sendo as passagens aéreas o produto que exerceu o principal impacto. Destaque também para a alta dos preços dos combustíveis e seguros. Já os preços dos alimentos e bebidas aumentaram 0,64% em setembro, também causando impacto de 0,15 ponto percentual no IPCA. Vários produtos ficaram mais caros, com destaque para o feijão carioca, açúcar refinado e cristal, frango e leite. Com relação a este grupo de produtos, especificamente, o governo já demonstra preocupação com a pressão no índice de inflação que se desenha para o final do ano, dado o período de entressafra na produção de grãos, carne bovina, cereais e etanol, as recentes quebras de safra, sobretudo na produção de trigo e milho de inverno, os baixos estoques mundiais e a firme demanda externa por commodities. Outros grupos que também influenciaram o IPCA de setembro foram ‘Habitação’ (com destaque para o gás de botijão, a taxa de água e esgoto e os aluguéis residenciais), ‘Vestuário’ e ‘Despesas Pessoais’ (com destaque para os salários dos empregados domésticos). Já o grupo ‘Artigos de residência’ apresentou queda de -0,01%.
  • Banco Central aumenta previsão de inflação em 2011 para 6,52%: Através de seu último Boletim Focus de setembro, o Banco Central elevou a projeção para a inflação brasileira em 2011 (com base no IPCA), de 6,38% feita no início do mês, para 6,52% no final do mês. Para 2012, a projeção é de 5,53%, sendo que esta tem aumentado pela 5ª semana consecutiva. De acordo com o próprio Banco Central, a probabilidade da inflação estimada para o Brasil em 2011 ultrapassar o teto da meta do governo, que é de 6,5%, subiu de 22% para 45%. Para o mercado, a chance do IPCA superar o teto da meta neste ano avançou de 18% para 44%.
  • IGP-M acelera para 0,65% em setembro: O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), a chamada “inflação do aluguel”, se acelerou para 0,65% em setembro, ante 0,44% verificada em agosto. O IGP-M acumula alta de 4,15% em 2011, e nos últimos 12 meses, é de 7,46%. A projeção do Banco Central, em seu último Boletim Focus de setembro, aponta o IGP-M encerrando 2011 em 5,82%, alta de 0,21% em relação à projeção feita no final de agosto (de 5,61%). Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em setembro houve aceleração do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) –0,74% - e do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – 0,59% -, e recuo do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) – 0,14%, frente a 0,16% verificado em agosto.
  • Banco Central reduz estimativa para o PIB em 2011: De acordo com o último Boletim Focus de setembro, o Banco Central reduziu mais uma vez a previsão do PIB para 2011, de 3,67% verificada no início de setembro, para 3,51%. Para 2012, a projeção também é de queda, de 3,84% feita no início do mês, para 3,70% neste último Boletim Focus. O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, ainda continua acreditando numa taxa de crescimento de 4,0% para 2011, apesar de já aceitar rever tais projeções, caso a crise internacional se agrave nos próximos meses.
  • Inadimplência do consumidor aumenta 3,0% em agosto: Conforme pesquisa da SERASA, a inadimplência do consumidor apresentou alta de 3,0% em agosto. No acumulado do ano, a inadimplência acumula aumento de 23,4%, tendo crescido 29,2% em relação ao mesmo período de 2010. Segundo a entidade, os juros elevados no crédito e as compras parceladas feitas no Dia dos Pais impactaram a inadimplência do consumidor em agosto, com o aumento nos registros de dívidas não honradas junto aos bancos e dos cheques sem fundo. De janeiro a agosto, o valor médio das dívidas com títulos protestados subiu 14,8%, enquanto os cheques sem fundo e as dívidas com bancos aumentaram 8,2% e 0,5%, respectivamente, sobre igual período de 2010. Dados do Banco Central também confirmam o aumento da inadimplência: em agosto, o índice apresentou o maior patamar desde janeiro do ano passado – 5,3% -, com os atrasos superiores a 90 dias aumentando 0,1 ponto percentual em relação a julho, bem como a inadimplência para a pessoa física (para 6,7%) e para as empresas (para 3,9%). Para economistas da SERASA, o pagamento da 1ª parcela do 13º salário, no final de novembro, poderá dar um fôlego extra às finanças do consumidor, o qual deverá priorizar o pagamento das dívidas assumidas anteriormente.
  • País gerou 190.446 novas vagas de emprego em agosto: Segundo os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram criados no Brasil, em agosto, 190.446 novas vagas de emprego com carteira assinada. Entretanto, tal resultado ficou bem abaixo do número de empregos criados no mesmo mês do ano passado (299.415 postos), confirmando uma tendência de desaceleração na dinâmica do emprego no Brasil. Os principais setores responsáveis pela expansão do emprego em agosto foram os Serviços (94.398 postos) e o Comércio (44.336 postos). Destaque também para a Indústria de Transformação (35.914 postos) e a Construção Civil (31.613 postos). Apesar disso, todos os setores apresentaram desempenho inferior ao verificado em 2010, especialmente Comércio e Construção Civil, cujos resultados eram fundamentais para o alcance da meta do governo de gerar 3 milhões de novos empregos em 2011. Apesar do resultado positivo observado no mês, confirma-se a análise feita no boletim anterior de que o ritmo de crescimento do emprego no país em 2011 é mais lento em relação a 2010, ano em que o Brasil atingiu, ao seu final, 2,5 milhões de novos empregos. Dessa forma, a probabilidade do governo atingir a meta proposta no início do ano de 3 milhões de novos empregos tornou-se praticamente impossível de ser atingida. A não ser que setembro apresente um saldo positivo extraordinário na geração de novas vagas de emprego, pode-se inferir que, além da meta inicial do governo não ser atingida, o saldo do ano poderá ficar aquém do verificado em 2010.