domingo, 14 de abril de 2013

TERMÔMETRO ECONÔMICO - Março de 2013

O grande debate no Ambiente Econômico é sobre os próximos passos da equipe econômica do governo brasileiro frente a dois problemas: inflação em alta e crescimento em baixa. A primeira estratégia do governo foi apostar no crescimento econômico, deixando o controle da inflação num segundo plano. Entretanto, os últimos dados conjunturais, bem como as declarações do Ministro da Fazenda e do Presidente do Banco Central, apontam para uma mudança de estratégia, com a inflação assumindo papel principal na política econômica do governo. A consequência esperada é de que haja uma retomada do aumento da taxa de juros já na próxima reunião do COPOM, no mês de abril, como este boletim vinha alertando e destacando há mais de um ano.
  • Inflação oficial fica em 6,59% em 12 meses, acima da meta do governo: O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,47% em março, após alta de 0,60% em fevereiro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado de 12 meses até março, o IPCA avançou 6,59% no mês passado, mostrando alta ante os 6,31% de fevereiro, e estourando o teto da meta do governo, de 6,5%. No ano, o IPCA já acumula uma alta de 1,94%. Segundo as projeções do Banco Central, através do seu Boletim Focus do final de março, o IPCA deverá encerrar o ano em 5,70%. Para 2014, as projeções subiram de 5,50% (início de março) para 5,70% (final do mês).
  • Inflação acima da meta já torna alta dos juros iminente: Os dados sobre inflação no curtíssimo prazo irão determinar se o Banco Central irá ceder aos apelos de agentes do mercado financeiro, que defendem uma alta da taxa SELIC já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), ou se a decisão será postergada para o mês de maio. O próximo encontro está marcado para os dias 16 e 17 de abril. A alta disseminada dos preços está presente na economia desde o ano passado. No entanto, a partir de agora, ela passa a ter maior peso na formação dos índices de inflação para o ano que vem, o que reforça a atenção em cima desses dados. No acumulado de 12 meses, a inflação medida pelo IPCA já ultrapassou o teto da meta, que é de 6,5%. No entanto, se continuar assim, as projeções para 2014 começarão a ser revistas para cima, e é com isso que o BC está preocupado. Para o vice-presidente da SulAmérica Investimentos, Marcelo Melo, o ciclo de alta dos juros deve ter início na reunião de maio, fazendo com que a SELIC suba de 7,25% ao ano para 8,5% até o final do ano. O executivo reforça que o BC está trabalhando com um horizonte mais longo, uma vez que resta pouca coisa a fazer em relação à inflação de 2013. "O BC está de olho em qualquer pressão inflacionária ou sobre o mercado de trabalho”. Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luiz Otávio Leal, o BC irá analisar os dados de curto prazo e, como base nesses fatores irá tomar a decisão sobre aumentar os juros. Por enquanto, a expectativa é de uma alta apenas em maio. A instituição trabalha com cenário de elevação em que, em dezembro, a SELIC estará em 8,5% ao ano. Nessa análise, o PIB do 1º trimestre, que será divulgado na decisão da reunião de maio, também terá um peso relevante. Por outro lado, Tatiana Pinheiro, economista do Santander, avalia que a SELIC será mantida em 7,25% até o final do ano. Na avaliação de Felipe Queiroz, economista da Austin Ratings, a autoridade monetária ainda se divide entre os dilemas de controlar a inflação ou estimular a economia. Por isso, ele acredita que o IPCA de março ainda não será o necessário para uma alta da SELIC. "A inflação não decorre da demanda em si e, sim, na oferta. Os preços tem se elevado no grupo de serviços, se alterar os juros vai ter impacto maior sobre a indústria do que sobre preço dos serviços que é quem de fato pressiona o índice neste momento", afirma.Para ele, a taxa de desemprego em baixa e os salários aumentando acima do nível de produtividade fazem com que as pessoas ganhem mais, o que consequentemente aumenta o consumo por serviços, que é um segmento com uma capacidade restrita. "Alterando ou não os juros não vai aumentar o número de vagas no estacionamento", brinca. Queiroz lembra que o grande problema da economia brasileira atualmente é não crescer e, consequentemente não conseguir atender sua demanda. De acordo com o economista, a preferência é que se tenha uma taxa básica de juros estável para que se tenha um nível de investimento produtivo maior. "Acreditamos que a SELIC tende a se manter estável". A projeção da Austin é de que, se houver reajuste, só a partir de setembro, com duas altas consecutivas 0,25 ponto percentual, com a SELIC encerrando o ano a 7,75% ao ano. O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, avalia que a inflação se encontra em seu pico de alta e, salvo choques que não tem como serem previstos, vai desacelerar nos próximos meses, até pela alta base de comparação do 2º semestre de 2012. "As projeções sugerem que a inflação em 12 meses tende a cair, ou não subir muito mais. Hoje vai ser o pior dos mundos para o BC, mas tudo indica que vai melhorar", diz Perfeito sobre a divulgação do IPCA.
  • Banco Central e Fazenda afinam discurso e sinalizam alta da SELIC já em abril: O Banco Central e o Ministério da Fazenda afinaram ainda mais o discurso e pavimentaram o caminho para que o ciclo de aperto monetário comece já na próxima reunião do COPOM, ao enfatizarem que o governo não vai deixar a inflação sair do controle. Participando de eventos em cidades diferentes, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defenderam que a escalada de preços não será tolerada, o que, na avaliação mercado, mostrou uma sintonia para que o Comitê de Política Monetária (COPOM) eleve a SELIC na próxima reunião, dias 16 e 17 de abril, e não em maio, como ainda prevê uma parte dos agentes econômicos. O principal sinal dado por Tombini, segundo especialistas, foi a inclusão da palavra "atentamente" na sua declaração sobre o monitoramento feito pelo BC dos indicadores econômicos para decidir sobre o futuro da política monetária. Especialistas lembraram que essa foi a senha para, no passado recente, o COPOM começar um ciclo de aperto. "O Banco Central tem dito que não há e não haverá tolerância com a inflação. Nós estamos nesse momento monitorando atentamente todos os indicadores e obviamente no futuro vamos tomar decisões sobre o melhor curso para a política monetária", afirmou Tombini, em um pouco usual comentário a menos de uma semana da reunião do COPOM. Sua fala jogou ainda mais combustível no mercado futuro de juros, com as taxas dos DIs mais curtas disparando, fortalecendo as apostas de que o COPOM elevará a SELIC —hoje na mínima histórica de 7,25% ao ano— na reunião dos próximos dias 16 e 17. A taxa básica de juros não sobe desde meados de 2011, quando o BC deu início à série de dez cortes seguidos até outubro passado e que levou a SELIC para seu atual patamar, a fim de estimular a atividade econômica. Agora, o cenário é outro. Mesmo com a recuperação econômica sem sinais robustos, a inflação permanece em níveis muito elevados, tendo estourado o teto da meta oficial em março, com o IPCA chegando a 6,59% em 12 meses, mesmo com todos os esforços do governo para tentar segurar os preços. Mais recentemente, a equipe econômica e a própria presidente Dilma Rousseff endureceram o discurso contra a inflação, enquanto o BC evidenciava a necessidade de ter cautela na condução da política monetária. Diante disso, uma boa parte dos agentes econômicos acreditava que a SELIC subiria somente no encontro de maio do COPOM. Mas esse sinal parece ter perdido força. Para o estratagista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno, o fato de Tombini ter dito que monitorará "atentamente" os dados econômicos deixou claro que a porta está aberta para elevação da SELIC já na próxima reunião. A fala do presidente do BC já fez alguns especialistas mudarem suas projeções sobre a SELIC, antecipando a alta de maio para abril. É o caso da Nomura Securities, que agora vê a taxa básica subindo 0,50 ponto percentual na próxima reunião, mas mantendo a perspectiva de que fechará o ano a 8,75%. Pouco antes das declarações de Tombini, Mantega já havia reforçado, na visão do mercado, que o ciclo de aperto começaria agora. O ministro disse, durante evento em São Paulo, que o BC poderá elevar a SELIC se considerar necessário para combater a inflação. Repetiu ainda que o governo tomará todas as medidas necessárias para segurar a escalada dos preços e impedir a dispersão da inflação por meio das expectativas. "Não titubeamos em tomar medidas. Inclusive posso dizer que, mesmo as medidas que são consideradas menos populares, são tomadas, por exemplo, em relação às taxas juros, quando isso é necessário", disse Mantega durante palestra em São Paulo. O ministro afirmou ainda que o calendário político não influencia as decisões de política monetária. "Se vocês olharem ao longo do tempo, nós elevamos juros em véspera de eleição. Por exemplo, em 2010 nós elevamos taxa de juros. Portanto, não nos pautamos por calendário político", comentou Mantega. Será???
  • Inflação medida pelo IGP-M desacelera para 0,21% em março: O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), a chamada ‘inflação do aluguel’, fechou o 3º mês de 2013 em 0,21%, ante 0,29% ocorrida em fevereiro, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV). A variação acumulada em 2013 é de 0,84%, enquanto a taxa acumulada em 12 meses até março é de 8,05%. Segundo as projeções do Banco Central, em seu último Boletim Focus de março, o IGP-M deve ficar em 4,93% em 2013. Para 2014, a projeção é de 5,31%.
  • IBC-Br cai 0,52% em fevereiro ante janeiro: O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,52% em fevereiro em relação ao mês anterior, após registrar alta de 1,43% em janeiro ante dezembro, na série com ajuste sazonal. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central (BC), o número passou de 144,71 pontos em janeiro para 143,96 pontos em fevereiro na série dessazonalizada. A queda do IBC-Br de fevereiro ante janeiro é menor que a mediana das projeções dos analistas do mercado financeiro e ficou dentro do intervalo das estimativas (-1,10% a +0,30%). Na comparação entres os meses de fevereiro de 2013 e de 2012, houve expansão de 0,44% do índice, na série sem ajustes sazonais. A queda de 0,52% do índice, em fevereiro, em relação ao mês anterior, é o maior recuo para esse mês do ano desde fevereiro de 2005, quando a queda também foi de 0,52% na série com ajuste sazonal. Em relação a todos os meses do ano, a queda do IBC-Br em fevereiro de 2013 é a maior variação negativa desde a queda de 0,84% em setembro de 2012 ante agosto do ano passado. O IBC-Br serve como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. Segundo as projeções do Banco Central, através do seu Boletim Focus do final de março, o PIB deverá encerrar o ano em 3,00%. Para 2014, as projeções continuam em 3,50%.
  • Dólar fechou março em R$ 2,0210: O Dólar encerrou o 3º mês do ano um pouco acima de R$ 2,00. A cotação de 28 de março foi de R$ 2,0210, ante R$ 1,9830 verificada no início do mês. O Euro fechou março a R$2,5853, ante R$ 2,5762 verificado no início do mês. Especificamente com relação ao Dólar, a previsão para a taxa de câmbio, feita pelo Banco Central para 2013, conforme o último Boletim Focus de março, é de R$ 2,00. Para 2014, a taxa de câmbio está estimada em R$ 2,05. Em março, o Dólar apresentou ganho de +1,91%, e no ano, até agora, a perda é de-1,22%.
  • Produção industrial recua 2,5% em fevereiro: Em fevereiro de 2013, a produção industrial recuou 2,5% em relação ao mês imediatamente anterior, na série livre de influências sazonais, praticamente eliminando a expansão de 2,6% registrada em janeiro. Na série sem ajuste sazonal, no confronto com igual mês do ano anterior, o total da indústria apontou queda de 3,2% em fevereiro de 2013, após registrar avanço de 5,5% em janeiro último. A queda de 2,5% da atividade industrial na passagem de janeiro para fevereiro alcançou 15 dos 27 ramos pesquisados, com destaque para a influência negativa exercida pelo setor de veículos automotores, que recuou 9,1% nesse mês, eliminando o avanço de 6,2% verificado em janeiro último. Outras contribuições negativas relevantes sobre o total da indústria vieram de farmacêutica (-10,8%), refino de petróleo e produção de álcool (-5,8%), bebidas (-5,2%), alimentos (-1,3%), mobiliário (-9,9%), celulose, papel e produtos de papel (-2,0%) e indústrias extrativas (-1,9%). As principais pressões positivas sobre a média da indústria vieram de outros equipamentos de transportes (9,6%), máquinas e equipamentos (1,7%), fumo (36,2%), que recuperou parte da perda de 53,7% registrada em janeiro, e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (4,6%).
  • Inadimplência cai pelo 3º mês consecutivo: O indicador de registro de inadimplentes apresentou queda de 1% em março ante fevereiro, descontados os efeitos sazonais, segundo dados divulgados pela Boa Vista Serviços, administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito). No 1º trimestre de 2013, o indicador acumula redução de 5,6% ante igual período de 2012. Segundo a Boa Vista, o resultado de março manteve a tendência de queda observada desde o início do ano e é "reflexo da continuidade dos impactos positivos das melhores condições do mercado de crédito, influenciadas pela queda da taxa básica de juros e spreads bancários, e do aumento da população com vínculo empregatício ao longo de 2012, além da maior seletividade dos bancos privados na oferta do crédito", segundo nota. Por conta deste cenário, o órgão estima uma continuidade na desaceleração do registro do número de inadimplentes ao longo de 2013, fechando o ano com um aumento inferior a 1%. Em relação a março de 2012, a queda no número de novos registros de inadimplência no mês passado foi de 10,4%. No acumulado de 12 meses, em comparação aos 12 meses anteriores, o indicador apontou uma queda de 0,2%, fato que não ocorria desde outubro de 2010. O valor médio das dívidas incluídas em março foi de R$ 1.340, 6,62% maior que o apurado em fevereiro. O indicador de recuperação de crédito — obtido a partir da quantidade de exclusões dos registros de inadimplentes — caiu 4,3% no mês passado em relação a fevereiro, descontados os efeitos sazonais. Na comparação com março de 2012, houve elevação de 3,4%. No trimestre, o indicador acumula expansão de 5% ante o mesmo período do ano anterior. Para a Boa Vista, as melhores condições do mercado de crédito e aumento da população empregada também devem continuar contribuindo positivamente para a recuperação de crédito em 2013. "Assim, espera-se uma dinâmica da recuperação de crédito em intensidade semelhante à observada nos três primeiros meses do ano. Projeta-se para 2013 uma elevação de 4,8% em relação a 2012".
  • País cria 123.446 novos empregos em fevereiro: Segundo os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), referentes a fevereiro de 2013, foram criados no Brasil, 123.446 novas vagas de emprego com carteira assinada, o que corresponde a um crescimento de 0,31% no estoque de assalariados em relação ao mês anterior. No mês foram 1,774 milhão de admissões, e 1,650 milhão de desligamentos. Em termos setoriais, os dados mostram que, dos oito setores que participam do levantamento, cinco tiveram variação positiva no 2º mês do ano. Destaque para os Serviços, com +82.061 novos empregos, a Indústria da Transformação, com +33.466 novos empregos, e para a Construção Civil, com +15.636 novos postos. O Comércio apresentou queda de -10.414 vagas, bem como a Agricultura, com -9.775 vagas.
  • Aumenta percepção de risco do Brasil entre investidores: Os investidores globais diminuíram no último ano a percepção de risco sobre os títulos públicos brasileiros, mas isso não foi suficiente para tirar o país da lista dos mais arriscados para aplicar recursos. Além disso, o movimento dos últimos três meses tem apontado reversão para esta tendência, com os aplicadores mais receosos com o país daqui pra frente. A avaliação toma como base os custos dos Credit Default Swaps (CDSs), operações que protegem investidores contra calotes de países e, por isso, funcionam como um ‘seguro’ de títulos soberanos. O levantamento foi feito para o Brasil Econômico porr Ricardo Torres, professor da BBS Business School, com base em dados da Bloomberg. O Brasil terminou fevereiro com saldo da dívida mobiliária federal de R$ 1,864 trilhão, equivalente a 41,7% do PIB, tem reservas em dólar na ordem de R$ 377,9 bilhões e uma dívida externa total de US$ 316,3 bilhões, de acordo com o Banco Central. “No conjunto, temos um histórico positivo e a situação é confortável, porque o que a economia gera de receitas é compatível para pagar as dívidas”, diz Torres. Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, acredita que a queda anual não invalida o fato de os investidores estarem preocupados com o Brasil. “Um pouco antes do final de 2012 para cá, houve uma reavaliação das perspectivas da economia brasileira, com uma condução que inclui ingerências do governo no setor privado, que tem afugentado os investidores e criado uma percepção de que o país não é tão confiável quanto há um ano”, afirma. No âmbito de política monetária, ele cita a menor clareza com as metas de inflação, que não são buscadas com tanto rigor quanto antes, e os rumores de menor autonomia do Banco Central para alterar juros. Já no âmbito de política fiscal, há o problema da “contabilidade criativa.” Para se ter uma idéia, nos últimos três meses, o custo dos CDSs no Brasil subiram 10,87 pontos. “O prêmio de risco brasileiro subiu nos últimos meses, basicamente em função das medidas do governo, como desonerações para inflar o Produto Interno Bruto, jogando os ajustes da economia para frente”, pondera o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho. Por este motivo, a avaliação do Brasil é pior do que a de México, cujos CDSs têm custo de 89,50 pontos e da Colômbia, com 93,88 pontos. O custo dos CDSs brasileiros só não é maior do que os de países como Espanha (265,01 pontos), Itália (271,75 pontos) e Portugal (422,25 pontos), que sofreram nos últimos anos pelo estímulo fiscal dado em um momento de crise, cuja conta foi cobrada posteriormente por meio de um alto endividamento desses governos. Apesar de alto, o indicador desses países apresenta desaceleração, com queda de 205,1 pontos em Espanha, 151 pontos na Itália e 716,2 pontos em Portugal. “Isso não quer dizer que melhorou muito a situação desses países, mas que eles deixaram de ser piores”, destaca Queiroz, da Austin Rating. “Mesmo com a economia passando por dificuldades, taxa de desemprego alta e PIB com retração, as políticas adotadas têm controlado a situação e dado uma atenuada”, diz o economista.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Por que a inflação voltou a preocupar?

Amigos,
Replico abaixo partes de um excelente artigo publicado pela BBC Brasil, de autoria de Luís Guilherme Barrucho, e que pode ser acessado na íntegra pelo endereço http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/04/130409_inflacao_entenda_lgb.shtml.
Uma ótima e didática explicação sobre a inflação no Brasil e o momento atual! Boa leitura a todos, e um ótimo final de semana.
Artigo: Entenda por que a inflação preocupa no Brasil
Luís Guilherme Barrucho - BBC Brasil em São Paulo
Atualizado em 10 de abril, 2013 - 10:38 (Brasília) 13:38 GMT
Os recentes sinais de crescimento acelerado da inflação - que nos últimos 12 meses já acumula alta de 6,59%, acima do teto da meta, segundo o IBGE - não tem afetado apenas o bolso dos brasileiros, como também preocupado economistas, que criticam a forma como o governo vem lidando com o aumento generalizado dos preços. Para especialistas ouvidos pela BBC Brasil, o país vive, atualmente, o "pior dos mundos", com crescimento baixo e inflação em alta. Eles avaliam que, para eliminar os dois problemas, o Brasil precisará de um "forte ajuste".
 
Para explicar por que a inflação voltou a ser o centro das atenções na agenda econômica brasileira, a BBC Brasil preparou uma lista de perguntas e respostas.
 
1) Por que a inflação voltou a preocupar?
 
A inflação é um velho inimigo da economia brasileira. Depois de anos de hiperinflação, em 1994, com a adoção do Plano Real, a taxa anual caiu de forma significativa. Em junho daquele ano, quando a nova moeda foi lançada, a taxa mensal foi de 47,43%. No mês seguinte, caiu para 6,84%, posteriormente, em setembro, para 1,53%.
 
Hoje em dia, o Brasil trabalha com um sistema de metas de inflação anual. O centro da meta para 2013, estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional, é de 4,5% , mas o Banco Central (BC) admite, ainda dentro da meta, uma variação de dois pontos percentuais para cima e/ou para baixo.
 
Nos últimos 12 meses encerrados em março último, segundo os dados divulgados pelo IBGE, a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumulou alta de 6,59%, estourando o teto da meta. Foi a primeira vez que isso ocorreu desde novembro de 2011, quando o aumento em igual período foi de 6,64%.
 
A alta do índice em março já era prevista por analistas, mas contribuiu para aumentar os temores de que a estratégia adotada pelo governo para combater a inflação esteja sendo ineficiente e as autoridades estejam evitando tomar medidas "mais duras" nesse sentido, como uma eventual subida dos juros. O aumento também torna mais distante o objetivo de manter a inflação em 2013 mais próxima do centro da meta. Em 2010, a taxa foi de 6,5% e, no ano passado, de 5,84%. O BC prevê, no entanto, segundo seu último relatório trimestral, que a inflação deva encerrar este ano em 5,7%.
 
"A alta da inflação é extremamente prejudicial ao país. O aumento dos preços mina o poder de compra da população, especialmente das classes mais baixas que, com menos dinheiro no bolso, corre mais riscos de ficar endividada e inadimplente", afirma à BBC Brasil Samy Dana, professor de economia da FGV-SP. "Além disso, cria um cenário de incertezas para o investidor, que, desconfiado dos rumos da economia do país, tende a suspender ou adiar investimentos, prejudicando o crescimento", acrescenta.
 
2) O que explica a alta da inflação?
 
Inúmeros fatores explicam a escalada inflacionária no Brasil. De maneira geral, a origem está no desequilíbrio entre a oferta e a demanda.
 
Segundo o governo, foi o que aconteceu com os alimentos, já considerados os principais vilões para o aumento da inflação. O tomate, por exemplo, dobrou de preço nos últimos doze meses, com alta de 122,13%. No mesmo período, a farinha de mandioca registrou alta de 151,39%, segundo dados do IBGE. Existe um consenso de que parte da culpa é das condições climáticas. Nos Estados Unidos, a seca elevou o preços dos grãos, ao passo que, no Brasil, a seca no Nordeste e as chuvas na Região Sul também afetaram o valor cobrado pelos alimentos no mercado doméstico.
 
Porém, para especialistas, o aumento dos preços também é explicado pelos rumos mais recentes da economia brasileira, bem como problemas estruturais do passado. "Nos últimos anos, o mercado de trabalho passou por uma melhora importante, e a taxa de desemprego vem caindo. Paralelamente, devido ao déficit de mão de obra, os salários subiram, e esse aumento de renda também contribuiu para acelerar o consumo", explica a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, especialista em inflação. "O problema é que, ao passo que a demanda cresceu, a produção vem caindo e o nível de investimento (para ampliar a capacidade produtiva), também. Com mais pessoas consumindo e menos produtos disponíveis, o desequilíbrio é inevitável e se reflete nos preços", acrescenta. "A pressão por maiores salários também elevou, por sua vez, o repasse de custos", conclui. Por fim, o Banco Central diminuiu os juros, incentivando a expansão do crédito e, consequentemente, o consumo das famílias.
 
3) Como o mercado tem reagido?
 
Para especialistas, os rumos recentes da economia brasileira vêm criando um cenário de incertezas que afasta o investidor. "Há um aumento do nível de desconfiança em relação ao Brasil, tanto do ponto de vista macroeconômico quanto microeconômico. De um lado, existe uma sensação de que o BC tem perdido autonomia sobre a condução da política monetária. De outro, há um crescente enfrentamento por parte do governo com o setor privado", afirma Ribeiro. "Prova disso é que o nível de investimentos no Brasil tem caído na comparação com outros países emergentes. O problema é que, sem novos aportes financeiros, nossa produção fica comprometida, o que trava o crescimento e gera desemprego", acrescenta ela.
 
4) O que o governo tem feito?
 
A principal aposta do governo para a redução dos preços tem ocorrido por meio de desonerações tributárias. Recentemente, por exemplo, o governo prorrogou a alíquota reduzida do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre carros até dezembro deste ano. Além disso, desonerou a cesta básica, a energia elétrica e a folha de pagamento de inúmeros setores, entre outras medidas. A mais recente foi a decisão de zerar o PIS/Cofins de smartphones de até R$ 1,5 mil fabricados no Brasil.
 
Por essa lógica, o governo espera que as empresas repassem ao consumidor a redução do custo com os tributos. A medida, entretanto, é criticada por especialistas. Para Dana, da FGV-SP, a política é "arbitrária" ao privilegiar determinados setores da economia. Já para Ribeiro, da Tendências, o efeito das desonerações não passa de um "alívio temporário", porque "o preço, ainda que caia a curto prazo, se desenvolve de acordo com as condições de mercado". Além de fazer reduções de impostos, a equipe econômica já negociou com os governos estaduais o adiamento dos reajustes em transportes coletivos. Já o Banco Central não descarta um possível aumento dos juros.
 
5) Quais medidas devem ser tomadas?
 
Para Dana, da FGV-SP, o governo deveria estimular a concorrência, o que puxaria os preços para baixo. "As margens de lucro praticadas no Brasil ainda são bem maiores do que as de outros países, como os Estados Unidos, onde o próprio mercado elimina os ineficientes", afirma.
 
Segundo Ribeiro, da Tendências, já passou da hora de o Banco Central subir a taxa de juros. "Na minha avaliação, o BC cometeu um erro grave em 2011, quando decidiu reduzir os juros na marra apesar de os primeiros sinais do aumento da inflação. Agora, precisa recuperar o tempo perdido". Há um consenso, entretanto, de que o governo deveria corrigir os gargalos estruturais da economia brasileira, o chamado "Custo Brasil", o que contribuiria para aliviar a pressão sobre os preços.