sexta-feira, 6 de julho de 2012

TERMÔMETRO ECONÔMICO - Junho de 2012

O mês de junho confirma a forte desaceleração da economia brasileira, considerada mais grave do que o previsto, conforme todas as projeções do mercado e do próprio governo. Este anunciou mais um pacote de medidas de estímulo à economia, via compras públicas. Outros destaques negativos referem-se à desaceleração no saldo da balança comercial brasileira e ao aumento contínuo da inadimplência do consumidor. A Zona do Euro busca um acordo para consolidação do bloco, e conseqüentemente, restauração da ordem econômica diante dos efeitos da crise. Outros indicadores de junho: inflação (redução em relação a maio) e mercado de trabalho (redução no ritmo de criação de novos empregos). 

  • Boletim Focus do Banco Central reduz ‘drasticamente’ estimativa para o PIB em 2012: De acordo com o último Boletim Focus de junho, o Banco Central reduziu ‘drasticamente’ a previsão do PIB para 2012, de 2,72% no início do mês, para 2,05% no final de junho. Vale destacar que há 8 semanas seguidas o BC tem reduzido tal estimativa, e o que antes era visto como pouco provável pelo governo – crescimento abaixo de 3% no ano -, agora é visto como ideal para evitar um crescimento abaixo de 2%. Para 2013, a projeção é de 4,20%, 0,30 ponto percentual menor do que a estimativa feita no início de junho, que era de 4,50%.
  • Relatório Trimestral de Inflação, do Banco Central, reduz PIB para 2,50% em 2012: O Banco Central, em seu Relatório Trimestral de Inflação, reduziu a estimativa para o crescimento da economia brasileiro neste ano, de 3,50% (dados de março de 2012) para 2,50%. De acordo com o relatório, “a nova estimativa incorpora os resultados do PIB do 1º trimestre de 2012, dados preliminares referentes ao 2º trimestre, período em que a retomada da atividade vem ocorrendo de forma bastante gradual, e a atualização do cenário macroeconômico para a segunda metade ano”. Na realidade, a expectativa de um crescimento maior da economia no 2º semestre parece não ser consenso mais nem no mercado, nem no próprio governo.
  • Governo anuncia pacote de compras públicas para estimular a economia: O Governo Federal anunciou uma série de medidas de estímulo à economia, que envolvem antecipação de compras públicas. Somadas, elas atingem cerca de R$ 8,4 bilhões e abarcam vários Ministérios. Segundo o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, o foco do novo pacote de estímulos é o investimento, e uma das medidas inclui a redução da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), cobrados pelo BNDES, de 6% para 5,5%, visando a redução dos custos dos investimentos produtivos no país. O Ministro também destacou a ação do governo em estimular a redução dos juros bancários para pessoas físicas e para fortalecimento do câmbio, tornando as mercadorias brasileiras mais produtivas (e competitivas no mercado internacional). O programa anunciado pelo governo prevê aquisições nas áreas de Saúde, Defesa, Educação e Agricultura. Na área de Saúde, mais de 80 itens produzidos no país poderão ser adquiridos com preços até 25% superiores aos dos concorrentes, além de linhas de financiamento do BNDES dedicadas à compra de equipamentos na área (nesse caso, o índice de nacionalização deve ser de, no mínimo, 60%). Na área educacional, serão adquiridos 8,5 mil veículos e 30 mil móveis. Para combater a seca, serão comprados 8 mil caminhões e 3 mil patrulhas agrícolas, com foco no aumento da produtividade. Parte dos R$ 8,4 bilhões já estava prevista no Orçamento de 2012, mas o adicional necessário chegará a R$ 6,6, bilhões. Com isso, a previsão de investimento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para 2012 subiu de R$ 42,6 bilhões para R$ 51 bilhões. A seguir, uma síntese das ações do novo pacote de estímulos do governo:


TJLP
O governo anunciou a redução de 6% para 5,5% da taxa que baliza os investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Caminhões
Serão adquiridas 8 mil unidades no valor de R$ 2,28 bilhões para equipar as Forças Armadas e para Estados e municípios com problemas climáticos
Patrulha Agrícola (tratores e implementos)
Serão 3 mil unidades a um custo de R$ 870 milhões para aumentar a produtividade agrícola dos municípios
Retroescavadeiras
Serão 3.591 unidades a um custo de R$ 650 milhões para melhorar as estradas vicinais e o escoamento da produção dos municípios
Motoniveladoras
O governo vai comprar 1.330 unidades a um custo de R$ 638,6 milhões
Perfuratrizes
As compras totalizarão 50 unidades e o governo pretende gastar R$ 13,5 milhões para perfuração de poços na região da seca
Ambulâncias
O governo vai adquirir 2.125 unidades a um custo de R$ 326,3 milhões para o Sistema Único de Saúde
Unidade Odonto Móvel
Serão 1.000 unidades, no valor de R$ 154,2 milhões também para o Sistema Único de Saúde
Trens Urbanos
O governo pretende gastar R$ 721 milhões para comprar 160 vagões às estatais Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb)
Motocicletas
O governo pretende gastar R$ 22,3 milhões para adquirir 500 unidades para a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal
Blindado Guarani
Para abastecer o Ministério da Defesa, serão 40 unidades a um custo de R$ 342,4 milhões
Veículo Lançador de Míssil
O governo vai gastar R$ 246 milhões para comprar 30 unidades
Ônibus
Serão 8.570 unidades a um custo de R$ 1,714 bilhão para o Programa Caminho da Escola
Mobiliário escolar
Serão 3 milhões de unidades num custo de R$ 456 milhões para equipar as escolas
Margem de preferência
O governo dará preferência para compra de equipamentos e materiais hospitalares produzidos no Brasil, num valor total de R$ 2 bilhões

O governo, de fato, está preocupado com o desempenho da economia para 2012, abalada, sobretudo, pela crise internacional, e já havia anunciado uma série de medidas de estímulos nos primeiros meses do ano. O Ministério da Fazenda vem conversando com os fabricantes de eletroeletrônicos e móveis para avaliar o alcance e efeito da redução tributária. Não está descartado que o governo mantenha a redução em um contexto de estímulo ao consumo e à produção.
  • Saldo da Balança Comercial em junho acende sinal de alerta no governo: O mês de junho encerrou com a Balança Comercial apresentando superávit de R$ 807 milhões, e de R$ 7,073 bilhões no 1º semestre do ano. Entretanto, tais resultados são os piores dos últimos 10 anos (para o mês e para o semestre), informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O sinal de alerta está aceso, já que a expectativa era que o 2º semestre no Brasil fosse de melhora no crescimento econômico e das exportações, algo cada vez mais improvável de ocorrer. De acordo com dados do MDIC para o 1º semestre do ano, as exportações caíram em relação ao 1º semestre de 2011 (com forte queda nos preços de commodities como minério de ferro e petróleo), enquanto as importações bateram recorde para o período.
  • Dólar fecha junho a R$ 2,010: O Dólar encerrou o mês de junho em R$ 2,010, baixa de -1,85% em relação a maio. Com isso, o ganho anual caiu de 8,20% para 7,54%. O Euro fechou o mês em R$ 2,5605. Especificamente com relação ao Dólar, os operadores de câmbio consideram que o mercado ainda está reagindo à forte atuação do Banco Central, ocorrida na última semana do mês, e também a uma pequena melhora no cenário externo, após o anúncio de medidas na Zona do Euro. Apesar das medidas anunciadas no exterior representarem alguma tranqüilidade, ainda há dúvidas sobre como serão executadas. Além disso, operadores também alertam que a moeda norte-americana pode mostrar alguma volatilidade, reagindo à percepção do fraco crescimento no Brasil, tornando o país menos atrativo para investimentos estrangeiros. O mercado aponta um intervalo, entre R$ 1,90 e R$ 2,10 (chamado de ‘banda informal’), no qual o Banco Central está atento – perto dos R$ 2,10 poderia voltar a fazer leilões de venda, e abaixo de R$1,90 poderia voltar a comprar dólares no mercado à vista. A previsão para a taxa de câmbio, feita pelo Banco Central para 2012, está em R$ 1,95, conforme o último Boletim Focus de junho (alta de R$ 0,05 em relação à projeção do final de maio). Para 2013, a taxa de câmbio está estimada em R$ 1,90 (alta de R$ 0,03 em relação à projeção do final de maio).
  • IPCA de junho fica em 0,08%: Índice que mede a inflação oficial brasileira apresentou forte redução em junho, passando de 0,36% em maio para 0,08% neste último mês (o menor desde agosto de 2010, quando foi de 0,04%). Com isso, o resultado em 2012 aponta uma inflação acumulada de 2,32%, bem abaixo dos 3,87% verificados no mesmo período do ano passado. Considerando os últimos 12 meses, o IPCA situa-se em 4,92%, o mais baixo resultado desde setembro de 2010 (quando foi de 4,70%). A expectativa do Banco Central, no último Boletim Focus de junho, é que o IPCA encerre 2012 em até 4,93%. Para 2013, a projeção é de 5,50%.
  • Grupo ‘Alimentação e Bebidas’ continuou sendo o principal vilão da inflação em junho: Os preços dos ‘Alimentos e Bebidas’ (de 0,73% em abril para 0,68% em maio) causaram impacto de 0,16 ponto percentual no IPCA, com destaque para a batata inglesa e o tomate. Já o grupo ‘Transportes’ continuou sendo o principal responsável para a queda do índice de inflação no mês de junho (de -0,58% em maio para -1,18% neste mês, impacto de -0,24 no IPCA), com destaque para a redução dos preços dos automóveis (dada a redução do IPI implementada pelo governo).
  • IGP-M desacelera em junho e fica em 0,66%: O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), a chamada “inflação do aluguel”, desacelerou em junho, atingindo 0,66% no mês, frente a 1,02% verificado em maio, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). No ano, o IGP-M acumula alta de 3,19%, e de 5,14% nos últimos 12 meses. A projeção do Banco Central, em seu último Boletim Focus de junho, aponta o IGP-M encerrando 2012 em 5,87%.
  • Inadimplência é recorde no Brasil em maio, segundo o Banco Central: Acompanhando o crescimento do crédito no Brasil, a inadimplência chegou ao seu recorde histórico no mês de maio. Segundo o Banco Central, o crédito total disponibilizado no país representou 50,1% do PIB neste mês (ou R$ 2,136 bilhões), mas por outro lado, a inadimplência atingiu 6%, maior nível desde o início da série histórica, que se iniciou em junho de 2000. Em abril, a inadimplência havia ficado em 5,9%. O calote da pessoa física subiu 0,2 ponto percentual em maio, para 8%, enquanto a inadimplência das empresas ficou estável pelo 4º mês consecutivo em 4,1%. A esperança do governo é que a inadimplência recue a partir do 2º semestre do ano, como resultado da maior qualidade de crédito oferecido.
  • Segundo a SERASA, inadimplência do consumidor sobe 6,2% em maio: Conforme a SERASA Experian, o nível de inadimplência dos consumidores brasileiros aumentou 6,2% em maio, acumulando a 3ª alta consecutiva. No acumulado de 2012, o índice apontou elevação de 20% em relação ao mesmo período do ano passado. Especificamente em relação a maio de 2011, o aumento foi de 21,4%. O valor médio das dívidas não bancárias subiu de R$ 314,74 para R$ 369,72 (alta de 17,5%). Segundo os economistas da SERASA, o aumento da inadimplência do consumidor ocorreu em todos os tipos de dívida analisados, com destaque para a do tipo ‘não bancária’ (cartão de crédito, financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços), a qual contribuiu com 3,6 pontos percentuais para o avanço da inadimplência do mês. Para eles, o crescente endividamento do consumidor e as compras parceladas referentes ao Dia das Mães foram as principais razões para a alta da inadimplência em maio. Além disso, o mês teve dois dias úteis a mais que abril, o que levou ao registro de um número maior de dívidas não honradas no período.
  • País gerou 139.679 novas vagas no mês de maio de 2012: Segundo os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram criados no Brasil, no mês de maio, 139.679 novas vagas de emprego com carteira assinada. No ano, já são 877.909 novos postos de trabalho criados no país. Em termos setoriais, os dados mostram que sete dos oito setores de atividade econômica elevaram o nível de emprego, com destaque para Agricultura (+46.261 postos, a maior taxa de crescimento entre todos os setores e subsetores), Serviços (+44.587 postos), Indústria de Transformação (+20.299 postos), Construção Civil (+14.886 postos) e Comércio (+9.749 postos).
  • Analistas se dizem preocupados com a estratégia do governo de endividamento e ‘financeirização’ da pobreza: Diversos especialistas de mercado e analistas econômicos se mostram preocupados com a alternativa escolhida pelo governo de estimular o crescimento do PIB por meio de consumo (via crédito e outras medidas). Para a socióloga Para a socióloga Cláudia Sciré, o que está ocorrendo é uma "financeirização da pobreza" e não a efetiva ascensão de uma nova classe média ou nova classe C, como aponta o próprio governo. A socióloga questiona: "Eles deixaram de ser pobres? O acesso a bens culturais e à educação [de qualidade] continua muito difícil. O consumo sozinho não pode ser parâmetro", critica, questionando a sustentabilidade da ascensão e o endividamento das camadas da população que tiveram aumento de renda e consumo na última década. A incerteza sobre a capacidade de endividamento e da eficácia do estímulo ao consumo também preocupa o economista Fábio Giambiagi: "Apesar de os juros estarem caindo, esse endividamento nos outros países se dá com juros muito inferiores aos brasileiros, de tal forma que o mesmo endividamento tende a gerar, aqui no Brasil, um comprometimento da renda com o pagamento maior que nos outros países. Esse pacote recente do governo aponta no sentido de estimular o consumo no sentido de melhorar o PIB este ano. A gente entende pela lógica do curto prazo. Mas, para o médio e longo prazo, o conselho seria aumentar os canais de investimento público e privado". Apesar dos efeitos econômicos e sociais positivos, a socióloga Cláudia Sciré lembra que o acesso ao crédito pode ter consequências indesejadas na vida dos emergentes. "As pessoas às vezes se confundem, até porque o crédito oferecido é duas ou três vezes maior do que a renda. As pessoas acabam se endividando e a vida delas passa a ser gerida e pautada por esses prazos do mercado por essas dívidas que elas vão assumindo. Isso tem consequências graves como não conseguir visualizar um horizonte de possibilidades para além do mês seguinte", alerta a socióloga.
  • Zona do Euro chega a acordo para união bancária e fiscal: os 17 países da Zona do Euro chegaram a um acordo para aprofundar sua integração econômica, sobretudo com uma união bancária e fiscal, fazendo do Euro um projeto irreversível, conforme anunciou o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. A partir deste acordo, o Conselho da UE, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu começarão a elaborar um programa e apresentarão na cúpula de outubro um primeiro relatório com um roteiro e um calendário concreto. A Zona do Euro quer criar uma nova arquitetura européia baseada em uma união bancária, fiscal e política, com mais solidariedade e menos soberania, um supervisor bancário europeu, um Tesouro do Euro, Eurobônus, vetos a orçamentos nacionais e limites à emissão de dívida dos países. Segundo o relatório, na união bancária haverá dois elementos centrais: uma supervisão bancária européia única e um sistema comum de garantias de depósitos e de resolução bancária. A supervisão teria dois níveis: o europeu e o nacional, mas o primeiro teria a "responsabilidade final" e, portanto, a autoridade em matéria de supervisão sobre "todos" os bancos, assim como poderes para intervir de maneira preventiva. Atualmente, a supervisão européia dos bancos é coordenada pela Autoridade Bancária Europeia (ABE), mas o BCE pode receber a incumbência de vigiar as entidades da Eurozona. O sistema de garantias de depósitos também seria supervisionado em nível europeu, assim como o fundo europeu de resolução de bancos, cujos recursos procederiam das próprias entidades. O bloco da união fiscal suporá a cessão de mais soberania nacional, sendo esse o elemento imprescindível para que a Alemanha aceite mais solidariedade. Com a união fiscal, serão tomadas na Eurozona mais decisões em comum sobre as contas nacionais em troca do compartilhamento de riscos, e isso exige prevenir e corrigir políticas fiscais insustentáveis em cada país. Desta forma, a Eurozona poderia fixar tetos anuais de despesa aos orçamentos nacionais e limites aos níveis de dívida, de modo que um país que quiser emitir mais dívida que a estipulada conjuntamente teria de justificar sua decisão e receber autorização prévia dos demais sócios. Depois, seria possível explorar "a médio prazo" a emissão de dívida comum, de modo que só seriam introduzidos os Eurobônus quando houver "um robusto marco de disciplina orçamentária" para evitar o risco moral, como exige a Alemanha. O processo em direção à emissão de dívida comum seria gradual e feito por fases, com o progresso nas decisões sobre orçamentos acompanhado pelos correspondentes passos para compartilhar riscos.


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