terça-feira, 20 de setembro de 2011

Inflação volta a acelerar e IPCA-15 de setembro fica em 0,53%

Amigos, os dados do IPCA-15 (que trata-se de uma prévia do IPCA, índice que mede a inflação oficial brasileira), mostra sinais claros de volta da aceleração inflacionária. Com isso, confirma-se cada vez mais que a decisão do Conselho de Política Monetária (COPOM), do Banco Central, em reduzir a taxa SELIC na última reunião, foi, sim, equivocada, ou no mínimo, muito precipitada. E mais ainda, que a justificativa dada pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, não está se confirmando, já que a inflação não está apresentando sinais de desaceleração, mas ao contrário, de aceleração.

A pergunta que se coloca, neste momento, é a seguinte: E agora, o BC vai novamente aumentar a taxa de juros na próxima reunião do COPOM, voltando a atuar com o instrumento de política monetária para controle da inflação?

Se a resposta for sim, será um claro sinal de que o BC errou em reduzir precipitadamente a taxa SELIC, e sua decisão foi, sim, fruto da influência política do Ministro da Fazenda e da própria presidente Dilma. Se a resposta for não, corremos o risco de ver a inflação se acelerar no país, justamente no momento em que se configura um cenário de desaquecimento da economia, devido à nova rodada da crise mundial de 2008. Ou seja, seria a volta do fantasma da inflação, junto com crescimento baixo, cenário este que diversos economistas já haviam alertado e previsto ainda em agosto.

Leiam, abaixo, a síntese da análise feita pelo IBGE sobre os últimos dados do IPCA-15.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) teve variação de 0,53% em setembro, acima da taxa de taxa de 0,27% de agosto em 0,26 ponto percentual. Em setembro de 2010, a taxa havia sido de 0,31%.

Com isto o IPCA-E (IPCA-15 acumulado nos meses de julho, agosto e setembro) foi de 0,90 %, bem acima do resultado de igual período de 2010 (0,17%).

O IPCA-15 acumulado no ano está em 5,04 %, acima de igual período do ano anterior (3,53%).

Os preços dos alimentos apresentaram alta de 0,72%, subindo mais do que em agosto (0,21%) e voltando a pressionar o IPCA-15 de forma significativa, com impacto de 0,17 ponto percentual. Vários produtos ficaram mais caros, destacando-se açúcar cristal (4,72%) e refinado (4,59%), leite pasteurizado (2,64%), frango (2,51%), carnes (1,79%) e arroz (1,74%). Com isto, o grupo 'Alimentação e Bebidas' já acumula alta de 4,29% neste ano.

Mas apesar dos alimentos terem voltado a exercer pressão sobre o índice, foram as passagens aéreas que lideraram a relação dos principais impactos no mês. Isso fez o grupo 'Transportes' pular para 0,70%, ao passo que em agosto havia ficado em 0,03%, somente. Sobre os combustíveis, o etanol subiu de preços ainda mais, indo de 1,54% para 1,95%, enquanto a gasolina, que havia apresentado queda de 0,17% em agosto, foi para 0,65% em setembro.

Além dessas, outras despesas aumentaram, a exemplo dos gastos com Habitação, que passaram de 0,32% em agosto para 0,49% em setembro, com destaque para aluguel residencial (0,92%), taxa de água e esgoto (0,89%) e condomínio (0,45%).

Dessa forma, enquanto os alimentos ficaram, em média, 0,72% mais caros, os produtos não alimentícios aumentaram 0,47%, também acima de agosto (0,29%).
 
Para o cálculo do IPCA-15, os preços foram coletados no período de 13 de agosto a 13 de setembro e comparados com aqueles vigentes de 14 de julho a 12 de agosto de 2011. O indicador refere-se às famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos e abrange as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e Goiânia. A metodologia utilizada é a mesma do IPCA; a diferença está no período de coleta dos preços.
Fonte:
Comunicação Social - 20 de setembro de 2011. http://www.ibge.com.br/home/presidencia/noticias/ipca_20092011.htm

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Os cinco sentidos para fidelizar o consumidor

Mas, para que isso aconteça, é preciso calcular e definir os resultados que quer alcançar !

Amigos, segue matéria publicada no Jornal Hoje em Dia, no dia 16 de setembro de 2011, na seção de Classificados, sobre o tema "Marketing Sensorial", da qual participei como entrevistado. Excelente matéria feita pela jornalista Clarissa Carvalhaes. Recomendo a leitura e a reflexão sobre esta tendência cada vez mais forte do Marketing. Boa semana a todos!


Os cinco sentidos despertam o interesse do mais distinto consumidor. E é por isso que empresas dos mais variados setores vêm investindo no poder do marketing sensorial como um aliado para alavancar vendas e aumentar o número de clientes. Utilizar olfato, paladar, tato, visão e audição como formas de não apenas atrair o público como também fidelizá-lo é receita certa, mas nem sempre fácil de ser colocada em prática.

Especialistas alertam que antes de aderir a essa tática publicitária é preciso calcular e definir os resultados que se quer atingir, já que o principal efeito do marketing sensorial é a personalização. Ou seja, sai de cena o público generalizado e entra no foco, exclusivamente, o cliente específico.

“Não é possível com o marketing sensorial atingir a um público variado. Quando se trabalha com os sentidos,a empresa faz exceções e define o cliente com quem quer trabalhar”, explica o professor do Ibmec e consultor sênior da Global On Consultores Associados, Frederico Mafra.

Segundo ele, o marketing sensorial, ou marketing de experiência, trabalha estratégias por meio dos sentidos. “É uma das maneiras que a marca encontra para fazer com o que o cliente sinta de fato o que ele representa para empresa”, diz, acrescendo que observando cada um dos cinco sentidos é fácil encontrar por aí esse tipo de marketing sendo praticado. “A degustação é um exemplo de marketing sensorial. Quando a marca convida um consumidor em potencial a experimentar o produto - sem o compromisso de compra -, o resultado na maior parte das vezes é positivo: o cliente retorna para adquirir o produto mais tarde”,comenta ele.

Mafra completa afirmando que o consumidor deve se sentir à vontade para decidir. “O mais importante nesse tipo de estratégia é extinguir qualquer pressão para aquisição de um produto. É apenas uma amostra. A empresa apresenta o que está sendo comercializado, mas jamais pressiona por uma compra imediata”.

A visão , um dos sentidos mais explorados pelo meio publicitário, trabalha essencialmente com cores e formas dos produtos. Segundo o consultor, as cores, o tamanho e o formato são logo percebidos, influenciando as emoções mais diretamente. “A cor vermelha, por exemplo, remete à emoção, ao calor e à energia; a azul transmite a sensação de segurança e credibilidade. Sabendo disso, passe a observar as campanhas publicitárias. Qual cor é escolhida por uma seguradora para estampar a logomarca? Geralmente é a azul. E qual delas é eleita, porexemplo, para o lançamento de um carro que tem como proposta atingir a um público esportivo ou de aventura? A cor vermelha”, orienta Mafra.

Para encontrar a cor ideal do produto ou do ambiente de vendas, deve-se levar em conta diversos fatores, mas o principal deles é a opinião do público-alvo, ensina ele. Para tanto, é essencial realizar uma pesquisa de mercado. A partir dela é possível se orientar e prever as possíveis tonalidades mais voltadas para a empresa ou o produto. “Se o empresário conseguir fazer uma ligação direta do seu produto ou empresa com uma determinada cor ou formato, estará possibilitando maior posicionamento frente aos seus concorrentes”.

"É bem provável que você já tenha entrado em uma loja de roupas de cama e sentido um perfume agradável, como se estivesse acabado de sair do banho. Isso é puro marketing: o consumidor entrar em um ambiente e associá-lo imediatamente a algo aprazível. O cheiro característico faz lembrar a marca. É sentir aquele cheiro, em qualquer outro lugar ou circunstância e pensar: nossa, isso me lembra aquela loja”, explica o professor do Ibmec e consultor sênior da Global On Consultores Associados, Frederico Mafra.

A Tempero Mídia, especialista em soluções digitais, em parceria com a Coca Cola, implantou uma forma de anunciar produtos por meio da mídia digital olfativa. O diretor Comercial da empresa, Bernardo Dinardi, esclarece que a ferramenta faz com que a comunicação com o consumidor ocorra por meio do olfato aliada à mídia digital. “A técnica do marketing olfativo é mais uma entre as várias técnicas do marketing emocional.

No entanto, o ser humano é capaz de se lembrar de 35% dos odores que sente, enquanto soma-se apenas 5% do que se vê, 2%do que ouvem e 1% daquilo que toca, ou seja, esse novo formato de mídia espera criar uma interação ainda maior entre o consumidor e o produto, aquecendo assim as vendas”, afirma. O primeiro projeto que envolveu o formato foi a linha Del Valle Kapolate, com a essência de chocolate, e Del Valle Mais, com a essência de pêssego. Segundo Dinardi, no período da ação, o volume de vendas do produto anunciado foi três vezesmaior que o comum.

Quanto à audição, Mafra destaca que o ritmo e estilo musical definem exatamente o que a marca ou empresa quer do cliente. “Nas lojas de departamento, por exemplo, são sempre músicas agitadas e aceleradas. As pessoas precisam circular. É como se a loja dissesse: ‘entre, compre e vá embora’. O consumidor segue aquela adrenalina e dificilmente passa muito tempo em uma loja dessas”, comenta. “Já nas lojas de roupa infantil ou joalherias, as canções são lentas, suaves. O consumidor entra e pode passar horas escolhendo sem ver o tempo passar. É como se realmente ele seguisse o ritmo da música e ficasse mais calmo. O cliente é atendido por um vendedor que imediatamente oferece outro produto ou apresenta um modelo novo”.

O último dos sentidos, o tato, é também de extrema relevância. “Atualmente, inúmeras marcas estão investindo nas chamadas ‘lojas conceito’. Nesses locais, as pessoas experimentam e tocam os produtos. São lojas que dispõem, por exemplo, de cozinha montada. O cliente tem acesso a todos os produtos, pode manuseá-los e conhecer suas funções. No entanto, o mais interessante nesses ambientes é que não há comercialização de produtos, apenas demonstração. Ou seja, o ambiente não pressiona, mas segmenta o consumidor”.

Em 2002, uma pesquisa realizada pelo especialista em comportamento do consumidor Michael Solomon constatou que em um restaurante quando os clientes eram tocados pelos garçons davam gorjetas maiores. Em supermercados, os demonstradores quando tocavam de leve os clientes, tinham mais sucesso em convencê-los. “É preciso ter foco no conceito e principalmente nos resultados que quer atingir. Se bem aplicado, o marketing de experiência sempre dará bons resultados”, conclui Mafra.


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Termômetro Econômico - Agosto de 2011

Produzido por Frederico Mafra
Consultor Sênior da Global ON Consultores Associados e Professor do IBMEC

O mês de Agosto destaca a surpreendente decisão do Banco Central em reduzir a taxa de juros SELIC, contrariando a grande maioria dos especialistas do mercado, mas confirmando a submissão política da autoridade monetária perante o governo. Destaque também para os dados do PIB referentes ao 2º trimestre de 2011, e a indicação de desaceleração econômica brasileira para os próximos meses. Outros indicadores de agosto: inflação (com alta em agosto e expectativa de pressão para o final do ano), inadimplência (com índices maiores dos que os de 2010), e mercado de trabalho (com projeções cada vez mais certas de que o governo não alcançará a meta de 3 milhões estipulada para 2011).

  • COPOM surpreende o mercado e reduz em 0,50 ponto percentual a taxa SELIC: Na última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), realizada entre 30 e 31 de agosto último, foi tomada a decisão de se reduzir a taxa SELIC em 0,50 ponto percentual, chegando a 12,00% ao ano, e indo contra a maioria dos economistas e analistas do mercado, que esperavam, no mínimo, manutenção da taxa em 12,50%. Segundo o Comitê (cuja decisão não foi unânime), os aspectos que mais influenciaram para a redução da SELIC neste momento foram os indícios de deterioração da situação econômica mundial e o desaquecimento da economia brasileira verificado nos últimos meses e esperado para o restante do ano. A expectativa do mercado era de que somente a partir da próxima reunião, a ser realizada entre 18 e 19 de outubro, a taxa SELIC pudesse ser reduzida, gradativamente, contando que a inflação não se acelerasse no último quadrimestre de 2011. Entretanto, as projeções sinalizam que a inflação não se irá se desacelerar neste final de ano, e dessa forma, o esperado nesta última reunião era que o Banco Central mantivesse sua política de controle da inflação via manutenção da taxa de juros.
  • Decisão do COPOM sinaliza mudança na política econômica: Quando o Banco Central decidiu por abaixar em 0,50 ponto percentual a taxa SELIC, ele sinalizou, de fato, uma troca no mecanismo de comando da política econômica brasileira, ou seja, não utilizando a taxa de juros (política monetária) para controle da inflação, mas passando a utilizar o controle de gastos do governo e o aumento de superávit primário (política fiscal) como principais instrumentos de política econômica. O próprio presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, admitiu não estar tão preocupado com a inflação no curto prazo, mas sim com a crise financeira global e seus impactos para a economia brasileira. Ou seja, mudou-se o discurso. Mas admitir uma inflação maior no curto prazo é como abrir a possibilidade da inflação voltar e resolver não ir embora no futuro, ao bel prazer da equipe econômica. Devemos lembrar que a memória inflacionária e a cultura da indexação de preços é ainda presente na sociedade e economia brasileiras; elas só estão adormecidas, mas não extintas. A redução da taxa SELIC significou, na prática, uma decisão política se sobrepondo à decisão técnica e isenta do COPOM / Banco Central, esperada e que vinha ocorrendo até então. Em outras palavras, um Banco Central mais subordinado e menos técnico, e uma crença equivocada de que a inflação estará sob controle daqui para frente.
  • IPCA de agosto fica em 0,37%: Índice que mede a inflação oficial brasileira voltou a subir em agosto (0,37%), ante 0,16% verificado em julho. Com isso, o resultado em 2011 aponta uma inflação acumulada de 4,42%, acima da taxa de 3,14% verificada no mesmo período do ano passado. Considerando os últimos 12 meses, o IPCA situa-se em 7,23%, o mais alto patamar desde junho de 2005, e mantendo-se firme, pelo 5º mês consecutivo, acima do teto máximo estipulado pelo governo para a inflação anual brasileira (que é de 6,50%). O resultado do mês de agosto pressiona, ainda mais, o Banco Central quanto à decisão tomada de redução da SELIC feita no final do mês.
  • Grupo ‘Alimentação e Bebidas’ foi responsável por 45% do IPCA de agosto: Este grupo, que havia apresentado deflação -0,34% em julho, voltou a subiu de forma significativa em agosto, atingindo 0,72% de variação positiva, e causando impacto de 0,17 ponto percentual no índice total do mês (ou 45% deste). Vários produtos deste grupo aumentaram de preço, com destaque para as carnes. Outros grupos que também influenciaram na alta do IPCA de agosto foram ‘Habitação’ (principalmente o aluguel residencial e a taxa de água e esgoto), ‘Artigos de residência’ (com destaque para os eletrodomésticos - refrigerador e máquina de lavar) e ‘Artigos de vestuário’ (principalmente roupas femininas e masculinas, com a entrada da coleção primavera-verão). Já as despesas com o grupo ‘Transportes’ apresentaram queda de -0,11%.
  • Banco Central mantém previsão de inflação para 2011 em 6,38%: Pela 3ª semana consecutiva, o Banco Central, através do seu Boletim Focus, elevou a projeção para a inflação brasileira em 2011 para 6,38%. Vale ressaltar que esta mesma projeção era de 6,28% quatro semanas atrás. Com isso, confirma-se a expectativa do mercado de que a inflação não apresenta tendência de queda, pelo menos no curto prazo, indo contra a análise utilizada pelo governo para reduzir a taxa SELIC.
  • IGP-M volta a subir em agosto: O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), a chamada “inflação do aluguel”, após dois meses em queda, voltou a subir em agosto, fechando o mês em 0,44%, mas dentro das estimativas do mercado, que esperava um índice entre 0,32% e 0,47%. Com isso, o IGP-M acumula alta de 3,48% em 2011, e nos últimos 12 meses, de 8,00%. A projeção do Banco Central, em seu último Boletim Focus, aponta o IGP-M encerrando 2011 em 5,61%, alta de 0,08% em relação à projeção feita no final de julho (de 5,53%). Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em agosto houve aceleração do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) –0,57% -, do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – 0,21% -, e do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) – 0,16%.
  • PIB do 2º trimestre cresceu 0,8% e chegou a R$ 1,02 trilhão: O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 0,8% no 2º trimestre de 2011, em relação ao 1º trimestre, segundo dados publicados pelo IBGE. A soma das riquezas do país alcançou R$ 1,02 trilhão. O índice ficou dentro das expectativas do mercado, e o destaque ficou para o setor de Serviços, que cresceu 0,8% no volume do valor adicionado. As maiores elevações neste setor foram em Serviços de Informação (1,9%), Intermediação Financeira e Seguros (1,6%) e Comércio (1,1%). A Indústria também apresentou avanço de 0,2% no trimestre, com destaque para a expansão verificada na Indústria Extrativa (2,2%). Eletricidade e Gás, Água, Esgoto e Limpeza Urbana, juntamente com Construção Civil, também registraram crescimento de 1,5% e 0,5%, respectivamente. Já a Agropecuária recuou 0,1% no período. Com relação a outros dados relacionados, verificou-se que a taxa de investimento no 2º trimestre foi de 17,8% do PIB, e a taxa de poupança foi de 18,1%.
  • PIB do 1º semestre (acumulado em 2011) já é de 3,6%: No 1º semestre de 2011, o PIB já acumula alta de 3,6%, com destaque para o setor de Serviços (3,7%), seguido pela Indústria (2,6%) e pela Agropecuária (1,4%).
  • Banco Central reduz estimativa para o PIB em 2011: Apesar dos resultados positivos do PIB no 2º trimestre do ano, de acordo com o último Boletim Focus de agosto, o Banco Central reduziu a previsão do mesmo para 3,67% em 2011, ante previsão anterior de 3,94% feita no final de julho. Para 2012, a projeção também é de queda, de 4,00% feita no final de julho para 3,84% feita neste último Boletim Focus. Apesar do governo, em Projeto encaminhado ao Congresso Nacional referente ao Orçamento da União para 2012, considerar o crescimento da economia em 5%, o próprio Banco Central já não considera o alcance nem de 4%. Este, inclusive, foi um dos principais motivos de preocupação, apontados pelo COPOM, para reduzir a taxa SELIC, em prol de estimular a economia a não se desacelerar neste ano e em 2012.
  • Real fecha agosto em R$ 1,5864: O Dólar fechou agosto em R$ 1,5864, ante R$ 1,5540 verificado em julho. Já o Euro fechou o mês a R$ 2,2851, ante R$ 2,2394 em julho. Especificamente com relação ao Dólar, a previsão para a taxa de câmbio, feita pelo Banco Central para 2011, continua em R$ 1,60, conforme o último Boletim Focus de agosto.
  • Inadimplência do consumidor tem alta de 2,9% em julho: Conforme pesquisa da SERASA, a inadimplência do consumidor apresentou alta de 2,9% em julho. No acumulado do ano, a inadimplência cresceu 27,7% em relação ao mesmo período de 2010. Segundo a entidade, os consumidores têm adotado medidas mais cautelosas diante da política econômica, até então, restritiva por parte do governo (de aumento de taxas de juros iniciada no início de 2011). Mesmo com recente o anúncio de corte dos juros, estes ainda se encontram em patamar muito elevado, encarecendo o crédito e as taxas cobradas pelo sistema financeiro. Outros dados demonstram o avanço, mesmo que em ritmo menor, da inadimplência: o crédito tem mantido tendência de expansão, conforme dados do Banco Central; a elevação do índice no mês refletiu o avanço da inadimplência das pessoas físicas, de 6,4% para 6,6%, sendo que entre as empresas ficou estável em 3,8%; os atrasos nos pagamentos acima de 90 dias estão em alta desde o início do ano, confirmando as análises feitas em edições anteriores do Termômetro Econômico de que as pessoas estão tendo que pagar as dívidas contraídas em 2010, além de manterem as despesas correntes em dia (desafio que acaba não sendo cumprido por todo mundo).
  • País gerou 140.563 novas vagas de emprego em julho: Segundo os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram criados no Brasil, em julho, 140.563 novas vagas de emprego com carteira assinada. Os principais setores responsáveis pela expansão do emprego neste mês foram os Serviços (45.961 postos) e o Comércio (28.538 postos). Destaque também para a Construção Civil (25.632 postos) e a Indústria de Transformação (23.610 postos). Entretanto, o resultado de julho ficou abaixo do esperado pelo governo, que tinha expectativa de superar, pelo menos, o número de empregos criados no mesmo mês do ano passado (181.796 postos). Apesar do resultado positivo observado no mês, percebe-se que o ritmo de crescimento do emprego no país tem se apresentado mais lento em relação a 2010, quando o Brasil atingiu, ao seu final, 2,5 milhões de novos empregos. A continuidade desse comportamento em 2011 indica uma baixa probabilidade do governo atingir a meta proposta de 3 milhões de novos empregos neste ano. Dois aspectos referentes ao comportamento do mercado de trabalho deverão ser observados, principalmente, nos próximos dois meses (agosto e setembro). O primeiro refere-se à expectativa de desempenho expressivo na criação de empregos neste período, já que estes meses se caracterizam, historicamente, como os maiores geradores de empregos no país no 2º semestre. Caso o desempenho futuro não apresente, no mínimo, resultado igual ao verificado em 2010, já poderá ser dado como certo o não atingimento da meta do governo de criar 3 milhões de novos empregos até o final do ano. O segundo aspecto refere-se ao comportamento que os setores de Comércio e Construção Civil terão daqui pra frente. Historicamente, o Comércio é o setor que mais aquece o mercado de trabalho a partir do último quadrimestre do ano. E a Construção Civil carrega a expectativa de se manter aquecida pelos próximos meses. Qualquer desempenho diferente destes, relacionado a estes dois setores, poderá também contribuir para o não atingimento da meta global esperada pelo governo. Agosto e setembro serão, portanto, decisivos no resultado final de 2011. No acumulado do ano, já foram gerados 1.593.527 novos empregos (considerando a série ajustada, que incorpora as informações declaradas fora do prazo).



sábado, 3 de setembro de 2011

Banco Central reduz a taxa SELIC: o que isso realmente significa?

Produzido por Frederico Mafra, Professor do IBMEC e Consultor Sênior da Global On Consultores Associados
Postado em www.fredericomafra.blogspot.com e www.globalonconsultoria.blogspot.com

Em reunião realizada no último dia 31 de agosto, o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central decidiu cortar em 0,5 ponto percentual a taxa SELIC, passando-a de 12,50% para 12,00% ao ano. Segundo o Comitê (cuja decisão não foi unânime), os aspectos que mais influenciaram para a redução da SELIC neste momento (já que vários analistas do mercado não esperavam uma queda tão forte já nesta reunião) foram os indícios de deterioração da situação econômica mundial e o desaquecimento da economia brasileira verificado nos últimos meses e esperado para o restante do ano.

Analisando o fato de maneira isolada, poder-se-ia concluir que a decisão de se reduzir a taxa básica de juros da economia (SELIC) foi acertada. O Brasil apresenta, atualmente, uma das maiores taxas de juros do mundo, e quanto mais alta esta taxa, maiores os custos para financiamento e crédito, e maiores os aumentos conseqüentes na dívida brasileira.

Entretanto, se analisarmos esta decisão de uma maneira mais sistêmica e abrangente, chegaremos à conclusão de que outros fatores, não tão técnicos, também exerceram influência na queda da SELIC. Vamos detalhá-los a seguir, e ao final, você leitor poderá tirar suas próprias conclusões a respeito.

Em primeiro lugar, é importante lembrar que o foco principal da busca da estabilidade econômica no país, e que sempre foi o pilar do Plano Real, é o controle da inflação. A partir dele, as demais políticas econômicas eram definidas. Se considerarmos o 2º mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os oito anos do ex-presidente Lula, a meta principal do governo, sob o ponto de vista econômico, sempre foi a estabilidade decorrente do controle da inflação. Para isso, o país adota há anos um sistema de metas de inflação, cujo principal instrumento de combate a possíveis momentos de aceleração inflacionária é a taxa de juros (em outras palavras, instrumento de política monetária). E, de maneira bem simples, funciona assim: se a inflação demonstra sinais de aceleração, aumenta-se a taxa de juros para tentar frear o consumo interno do país e, conseqüentemente, o ritmo de crescimento da economia, fazendo com que os preços se mantenham constantes e, com isso, que a inflação se estabilize. Se a inflação desacelera, o governo pode baixar as taxas de juros para estimular a economia, focando em maior crescimento sem que este gere impacto na inflação.

Isto posto, precisamos então entender melhor o que o Banco Central, em sua decisão, quis dizer sobre a desaceleração econômica brasileira e a tendência futura da inflação no país.

É fato que a economia brasileira deverá crescer menos este ano. Alguns dados já projetam crescimento de menos de 4% para 2011. Mas com relação à inflação, as projeções não são de queda, mas sim de maior pressão (ou, em outras palavras, maiores chances de aumento) para o final do ano. Segundo diversos especialistas, a economia brasileira ainda enfrenta riscos inflacionários neste 2º semestre de 2011, e a desaceleração do ritmo de atividade observada nos últimos meses não é forte suficiente para justificar um corte da taxa SELIC, como o ocorrido agora. Para ilustrar, os economistas apontam alguns fatores que ajudam a, no mínimo, manter a atual pressão sobre inflação para o final do ano. Dentre eles, estão:
  • O crescimento da concessão de crédito a pessoas físicas, que aumentou 2,2% nos últimos 12 meses;
  • As vendas do varejo, que aumentaram 7,1% até junho deste ano, quando comparadas com o mesmo período do ano passado;
  • A dinâmica do mercado de trabalho interno, que continua empregando mais do que demitindo, com redução gradativa da taxa de desemprego (em julho, a taxa de desemprego chegou a 6%, segundo o IBGE, o menor nível para o mês em nove anos); 
  • O crescimento de 2,2% na renda real dos trabalhadores em julho, quando comparada com junho deste mesmo ano;
  • Os reajustes salariais concedidos e a serem concedidos em 2011, sendo praticamente 90% deles acima da inflação oficial;
  • A alta do preço do etanol, das carnes bovinas e do cigarro (só este último deverá pressionar em 0,2 ponto percentual a inflação a partir de novembro, dado o aumento do IPI já determinado pelo governo);
  • A dinâmica da inflação de serviços, que já cresceu 9% só neste ano, mostrando maior resistência à queda em função do emprego e da renda.

Tudo isso, junto, continuará contribuindo para uma demanda interna forte e um aumento da resistência inflacionária. Em outras palavras, haverá dificuldade para que a inflação caia, pelo menos no curto prazo. No próximo dia 6 de setembro sairão os dados do IPCA de agosto, e já é esperado pelo mercado que o índice apresente elevação em relação a julho, ultrapassando 7% no acumulado dos últimos 12 meses, reforçando as críticas sobre a decisão do COPOM de abaixar a taxa de juros, acreditando que a inflação no Brasil irá desacelerar.

Portanto, quando o Banco Central decide por abaixar 0,5 ponto percentual a taxa SELIC, ele sinaliza, de fato, uma troca no mecanismo de comando da política econômica brasileira, ou seja, não utilizando a taxa de juros (política monetária) para controle da inflação, mas passando a utilizar o controle de gastos do governo e o aumento de superávit primário (política fiscal) como principal instrumento de política econômica.

Traduzindo para o leitor não economista: na prática, o governo acredita que o momento é de controlar os gastos públicos e gerar superávit, reduzindo a taxa de juros e, conseqüentemente, sua dívida pública. O foco principal é não deixar a economia brasileira desacelerar, ou crescer menos que o esperado. Para essa conta fechar, o governo também acredita que a redução dos juros é possível dada a expectativa de queda da inflação para os próximos meses. Entretanto, como já demonstrado, a inflação não apresenta sinais de que vai cair, e aí essa conta do governo na, realidade, não fecha.

Para destoar ainda mais nesta conta que o governo tenta fechar, o projeto encaminhado ao Congresso Nacional relativo ao Orçamento da União para 2012 expande o gasto público muito acima do crescimento do PIB – superestimado em 5%, já que as projeções do próprio Banco Central, em seu último boletim semanal Focus, apontam crescimento do PIB em 2011 de 3,79% e em 2012 de 3,90%. Segundo fontes do próprio governo, entretanto, isso não seria problema, já que historicamente as contas públicas são administradas por decreto, e não pelas previsões orçamentárias. Se isso é verdade, para que serve, então, o Orçamento da União?

Continuando, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, já vinha preparando o mercado para esta possível queda das taxas de juros, dizendo que a crise internacional se desenhava mais preocupante do que se imaginava antes, e que seus efeitos recessivos para a economia brasileira deveriam ser combatidos, sinalizando, portanto, a possibilidade de antecipação do processo de redução de juros no país para estimular a economia.

Neste ponto, precisamos lembrar que o próprio presidente do Banco Central, em seu primeiro discurso como tal, no início do ano, defendeu sua autonomia e imparcialidade na condução da política monetária brasileira, dizendo que a autoridade monetária continuaria tendo como principal meta o controle da inflação no Brasil e a garantia da estabilidade econômica. Ou seja, está claro que a decisão de abaixar os juros, já neste momento, não pode ser atribuída apenas à análise de dados técnicos, mas também a uma pressão política para que ela acontecesse.

Essa hipótese se confirma pelas declarações do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, o qual afirmou que, ao contrário de 2008 (auge da crise econômica mundial), quando houve uma reação fiscal mais forte por parte do governo brasileiro, com expansão dos gastos e do crédito públicos, e pouca redução da taxa de juros, dessa vez a composição da política econômica será exatamente o contrário, com a meta fiscal encabeçando as ações do governo, sendo possível, então, reduzir a taxa de juros.

Constata-se, infelizmente, a forte influência política do Ministro Mantega sobre a autoridade e as decisões do Banco Central e de seu presidente Alexandre Tombini, fazendo o país voltar a definir suas políticas econômicas não tanto por critérios estritamente econômicos, mas muito mais políticos (como já ocorrera historicamente no passado). Esse temor já havia sido alertado em outros posts publicados por este autor, ainda em 2010, quando a então vencedora do pleito eleitoral, a atual presidente Dilma, havia nomeado os integrantes de sua equipe econômica. Naquela época, a pergunta que se colocava era se o governo Dilma seguiria à risca a política monetária de aumentar juros para controlar a inflação, ou se adotaria outra postura, aceitando um nível de inflação maior em prol de uma expansão da economia brasileira. E a expectativa do mercado era de que o governo, de fato, adotaria uma postura mais tolerante com a inflação, em grande parte devido à influência do Ministro Mantega sobre o novo presidente do Banco Central. Mas o que estranha é que o então novo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, nomeado pela presidente Dilma, deixou claro em seu primeiro discurso que faria todo o esforço possível para a manutenção da estabilidade econômica, não havendo dúvidas em aumentar a taxa de juros para segurar a inflação, caso fosse necessário.

Agora, o próprio Tombini admite não estar tão preocupado com a inflação no curto prazo, mas sim com a crise financeira global e seus impactos para a economia brasileira. Ou seja, mudou-se o discurso. Mas admitir uma inflação maior no curto prazo é como abrir a possibilidade da inflação voltar e resolver não ir embora no futuro, ao bel prazer da equipe econômica. Devemos lembrar que a memória inflacionária e a cultura da indexação de preços é ainda presente na sociedade e economia brasileiras; elas só estão adormecidas, mas não extintas. “Não cutucar a onça com vara curta” deveria ser o ditado a ser lembrado neste momento.

Não basta o presidente do Banco Central dizer, em seu discurso, que acredita na volta da inflação a patamares menos elevados neste final de ano, e de que em 2012 ela estará no centro da meta de 4,5%. Tecnicamente, todos os fatos já apontados neste artigo demonstram o contrário: de que a inflação não tenderá a cair nos próximos meses, e de que em 2012 tenderá a ser maior do que a meta do governo. O mercado projeta índice de, no mínimo, 5% para o próximo ano, e o próprio Banco Central, em seu boletim Focus, projeta inflação de 5,2% em 2012.

Com relação a 2012, especificamente, temos alguns outros fatores que irão fortalecer a inflação e manter o IPCA acima do centro da meta do governo. São eles:
  • O aumento de quase 14% no salário mínimo previsto para o ano que vem – passando dos atuais R$ 545,00 para R$ 619,21 -, o que deve injetar no consumo das famílias cerca de R$ 9 bilhões adicionais, e dar mais combustível para a inflação, via aumento do consumo interno;
  • Este aumento do salário mínimo representará, para os cofres públicos, acréscimo de R$ 13,3 bilhões.

Para um governo que aponta como política econômica prioritária o corte de gastos e ajuste fiscal, estes dados, no mínimo, irão criar uma dificuldade maior para o governo atingir as metas de inflação previstas. Num pior cenário, o governo poderia ter que lançar mão, novamente, de um aumento da taxa de juros para conter a inflação, o que, na prática, seria admitir um erro estratégico grave na condução da política econômica.

Voltando ao Orçamento da União para 2012, o Projeto de Lei encaminhado ao Congresso projeta, além do crescimento do PIB em 5% (valor superestimado), taxa SELIC de 12,50% até o final do ano que vem, inflação de 4,8% e câmbio a R$1,64. Ou seja, o governo parece projetar seu Orçamento com base em dados fictícios, já que trabalha para a queda gradual da SELIC e projeta inflação, via Banco Central, de mais de 5% ao ano.

Finalizando, o cenário básico futuro, para grande parte dos economistas, é de baixo crescimento econômico com inflação. E se a finalidade do governo é estimular o crescimento via redução de gastos e aumento dos investimentos, por outro lado estará abrindo mão do instrumento de controle da inflação, que é a taxa de juros.

A redução da taxa SELIC significou, na prática, uma decisão política se sobrepondo à decisão técnica e isenta do COPOM / Banco Central que vinha ocorrendo até então. Em outras palavras, um Banco Central mais subordinado e menos técnico, e uma crença equivocada de que a inflação estará sob controle daqui para frente.

Vamos torcer para que o governo esteja certo, e este autor que vos escreve esteja, apenas, um pouco mais pessimista que o governo, para o bem da sociedade brasileira e da economia em geral.