terça-feira, 6 de setembro de 2011

Termômetro Econômico - Agosto de 2011

Produzido por Frederico Mafra
Consultor Sênior da Global ON Consultores Associados e Professor do IBMEC

O mês de Agosto destaca a surpreendente decisão do Banco Central em reduzir a taxa de juros SELIC, contrariando a grande maioria dos especialistas do mercado, mas confirmando a submissão política da autoridade monetária perante o governo. Destaque também para os dados do PIB referentes ao 2º trimestre de 2011, e a indicação de desaceleração econômica brasileira para os próximos meses. Outros indicadores de agosto: inflação (com alta em agosto e expectativa de pressão para o final do ano), inadimplência (com índices maiores dos que os de 2010), e mercado de trabalho (com projeções cada vez mais certas de que o governo não alcançará a meta de 3 milhões estipulada para 2011).

  • COPOM surpreende o mercado e reduz em 0,50 ponto percentual a taxa SELIC: Na última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), realizada entre 30 e 31 de agosto último, foi tomada a decisão de se reduzir a taxa SELIC em 0,50 ponto percentual, chegando a 12,00% ao ano, e indo contra a maioria dos economistas e analistas do mercado, que esperavam, no mínimo, manutenção da taxa em 12,50%. Segundo o Comitê (cuja decisão não foi unânime), os aspectos que mais influenciaram para a redução da SELIC neste momento foram os indícios de deterioração da situação econômica mundial e o desaquecimento da economia brasileira verificado nos últimos meses e esperado para o restante do ano. A expectativa do mercado era de que somente a partir da próxima reunião, a ser realizada entre 18 e 19 de outubro, a taxa SELIC pudesse ser reduzida, gradativamente, contando que a inflação não se acelerasse no último quadrimestre de 2011. Entretanto, as projeções sinalizam que a inflação não se irá se desacelerar neste final de ano, e dessa forma, o esperado nesta última reunião era que o Banco Central mantivesse sua política de controle da inflação via manutenção da taxa de juros.
  • Decisão do COPOM sinaliza mudança na política econômica: Quando o Banco Central decidiu por abaixar em 0,50 ponto percentual a taxa SELIC, ele sinalizou, de fato, uma troca no mecanismo de comando da política econômica brasileira, ou seja, não utilizando a taxa de juros (política monetária) para controle da inflação, mas passando a utilizar o controle de gastos do governo e o aumento de superávit primário (política fiscal) como principais instrumentos de política econômica. O próprio presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, admitiu não estar tão preocupado com a inflação no curto prazo, mas sim com a crise financeira global e seus impactos para a economia brasileira. Ou seja, mudou-se o discurso. Mas admitir uma inflação maior no curto prazo é como abrir a possibilidade da inflação voltar e resolver não ir embora no futuro, ao bel prazer da equipe econômica. Devemos lembrar que a memória inflacionária e a cultura da indexação de preços é ainda presente na sociedade e economia brasileiras; elas só estão adormecidas, mas não extintas. A redução da taxa SELIC significou, na prática, uma decisão política se sobrepondo à decisão técnica e isenta do COPOM / Banco Central, esperada e que vinha ocorrendo até então. Em outras palavras, um Banco Central mais subordinado e menos técnico, e uma crença equivocada de que a inflação estará sob controle daqui para frente.
  • IPCA de agosto fica em 0,37%: Índice que mede a inflação oficial brasileira voltou a subir em agosto (0,37%), ante 0,16% verificado em julho. Com isso, o resultado em 2011 aponta uma inflação acumulada de 4,42%, acima da taxa de 3,14% verificada no mesmo período do ano passado. Considerando os últimos 12 meses, o IPCA situa-se em 7,23%, o mais alto patamar desde junho de 2005, e mantendo-se firme, pelo 5º mês consecutivo, acima do teto máximo estipulado pelo governo para a inflação anual brasileira (que é de 6,50%). O resultado do mês de agosto pressiona, ainda mais, o Banco Central quanto à decisão tomada de redução da SELIC feita no final do mês.
  • Grupo ‘Alimentação e Bebidas’ foi responsável por 45% do IPCA de agosto: Este grupo, que havia apresentado deflação -0,34% em julho, voltou a subiu de forma significativa em agosto, atingindo 0,72% de variação positiva, e causando impacto de 0,17 ponto percentual no índice total do mês (ou 45% deste). Vários produtos deste grupo aumentaram de preço, com destaque para as carnes. Outros grupos que também influenciaram na alta do IPCA de agosto foram ‘Habitação’ (principalmente o aluguel residencial e a taxa de água e esgoto), ‘Artigos de residência’ (com destaque para os eletrodomésticos - refrigerador e máquina de lavar) e ‘Artigos de vestuário’ (principalmente roupas femininas e masculinas, com a entrada da coleção primavera-verão). Já as despesas com o grupo ‘Transportes’ apresentaram queda de -0,11%.
  • Banco Central mantém previsão de inflação para 2011 em 6,38%: Pela 3ª semana consecutiva, o Banco Central, através do seu Boletim Focus, elevou a projeção para a inflação brasileira em 2011 para 6,38%. Vale ressaltar que esta mesma projeção era de 6,28% quatro semanas atrás. Com isso, confirma-se a expectativa do mercado de que a inflação não apresenta tendência de queda, pelo menos no curto prazo, indo contra a análise utilizada pelo governo para reduzir a taxa SELIC.
  • IGP-M volta a subir em agosto: O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), a chamada “inflação do aluguel”, após dois meses em queda, voltou a subir em agosto, fechando o mês em 0,44%, mas dentro das estimativas do mercado, que esperava um índice entre 0,32% e 0,47%. Com isso, o IGP-M acumula alta de 3,48% em 2011, e nos últimos 12 meses, de 8,00%. A projeção do Banco Central, em seu último Boletim Focus, aponta o IGP-M encerrando 2011 em 5,61%, alta de 0,08% em relação à projeção feita no final de julho (de 5,53%). Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em agosto houve aceleração do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) –0,57% -, do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – 0,21% -, e do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) – 0,16%.
  • PIB do 2º trimestre cresceu 0,8% e chegou a R$ 1,02 trilhão: O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 0,8% no 2º trimestre de 2011, em relação ao 1º trimestre, segundo dados publicados pelo IBGE. A soma das riquezas do país alcançou R$ 1,02 trilhão. O índice ficou dentro das expectativas do mercado, e o destaque ficou para o setor de Serviços, que cresceu 0,8% no volume do valor adicionado. As maiores elevações neste setor foram em Serviços de Informação (1,9%), Intermediação Financeira e Seguros (1,6%) e Comércio (1,1%). A Indústria também apresentou avanço de 0,2% no trimestre, com destaque para a expansão verificada na Indústria Extrativa (2,2%). Eletricidade e Gás, Água, Esgoto e Limpeza Urbana, juntamente com Construção Civil, também registraram crescimento de 1,5% e 0,5%, respectivamente. Já a Agropecuária recuou 0,1% no período. Com relação a outros dados relacionados, verificou-se que a taxa de investimento no 2º trimestre foi de 17,8% do PIB, e a taxa de poupança foi de 18,1%.
  • PIB do 1º semestre (acumulado em 2011) já é de 3,6%: No 1º semestre de 2011, o PIB já acumula alta de 3,6%, com destaque para o setor de Serviços (3,7%), seguido pela Indústria (2,6%) e pela Agropecuária (1,4%).
  • Banco Central reduz estimativa para o PIB em 2011: Apesar dos resultados positivos do PIB no 2º trimestre do ano, de acordo com o último Boletim Focus de agosto, o Banco Central reduziu a previsão do mesmo para 3,67% em 2011, ante previsão anterior de 3,94% feita no final de julho. Para 2012, a projeção também é de queda, de 4,00% feita no final de julho para 3,84% feita neste último Boletim Focus. Apesar do governo, em Projeto encaminhado ao Congresso Nacional referente ao Orçamento da União para 2012, considerar o crescimento da economia em 5%, o próprio Banco Central já não considera o alcance nem de 4%. Este, inclusive, foi um dos principais motivos de preocupação, apontados pelo COPOM, para reduzir a taxa SELIC, em prol de estimular a economia a não se desacelerar neste ano e em 2012.
  • Real fecha agosto em R$ 1,5864: O Dólar fechou agosto em R$ 1,5864, ante R$ 1,5540 verificado em julho. Já o Euro fechou o mês a R$ 2,2851, ante R$ 2,2394 em julho. Especificamente com relação ao Dólar, a previsão para a taxa de câmbio, feita pelo Banco Central para 2011, continua em R$ 1,60, conforme o último Boletim Focus de agosto.
  • Inadimplência do consumidor tem alta de 2,9% em julho: Conforme pesquisa da SERASA, a inadimplência do consumidor apresentou alta de 2,9% em julho. No acumulado do ano, a inadimplência cresceu 27,7% em relação ao mesmo período de 2010. Segundo a entidade, os consumidores têm adotado medidas mais cautelosas diante da política econômica, até então, restritiva por parte do governo (de aumento de taxas de juros iniciada no início de 2011). Mesmo com recente o anúncio de corte dos juros, estes ainda se encontram em patamar muito elevado, encarecendo o crédito e as taxas cobradas pelo sistema financeiro. Outros dados demonstram o avanço, mesmo que em ritmo menor, da inadimplência: o crédito tem mantido tendência de expansão, conforme dados do Banco Central; a elevação do índice no mês refletiu o avanço da inadimplência das pessoas físicas, de 6,4% para 6,6%, sendo que entre as empresas ficou estável em 3,8%; os atrasos nos pagamentos acima de 90 dias estão em alta desde o início do ano, confirmando as análises feitas em edições anteriores do Termômetro Econômico de que as pessoas estão tendo que pagar as dívidas contraídas em 2010, além de manterem as despesas correntes em dia (desafio que acaba não sendo cumprido por todo mundo).
  • País gerou 140.563 novas vagas de emprego em julho: Segundo os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram criados no Brasil, em julho, 140.563 novas vagas de emprego com carteira assinada. Os principais setores responsáveis pela expansão do emprego neste mês foram os Serviços (45.961 postos) e o Comércio (28.538 postos). Destaque também para a Construção Civil (25.632 postos) e a Indústria de Transformação (23.610 postos). Entretanto, o resultado de julho ficou abaixo do esperado pelo governo, que tinha expectativa de superar, pelo menos, o número de empregos criados no mesmo mês do ano passado (181.796 postos). Apesar do resultado positivo observado no mês, percebe-se que o ritmo de crescimento do emprego no país tem se apresentado mais lento em relação a 2010, quando o Brasil atingiu, ao seu final, 2,5 milhões de novos empregos. A continuidade desse comportamento em 2011 indica uma baixa probabilidade do governo atingir a meta proposta de 3 milhões de novos empregos neste ano. Dois aspectos referentes ao comportamento do mercado de trabalho deverão ser observados, principalmente, nos próximos dois meses (agosto e setembro). O primeiro refere-se à expectativa de desempenho expressivo na criação de empregos neste período, já que estes meses se caracterizam, historicamente, como os maiores geradores de empregos no país no 2º semestre. Caso o desempenho futuro não apresente, no mínimo, resultado igual ao verificado em 2010, já poderá ser dado como certo o não atingimento da meta do governo de criar 3 milhões de novos empregos até o final do ano. O segundo aspecto refere-se ao comportamento que os setores de Comércio e Construção Civil terão daqui pra frente. Historicamente, o Comércio é o setor que mais aquece o mercado de trabalho a partir do último quadrimestre do ano. E a Construção Civil carrega a expectativa de se manter aquecida pelos próximos meses. Qualquer desempenho diferente destes, relacionado a estes dois setores, poderá também contribuir para o não atingimento da meta global esperada pelo governo. Agosto e setembro serão, portanto, decisivos no resultado final de 2011. No acumulado do ano, já foram gerados 1.593.527 novos empregos (considerando a série ajustada, que incorpora as informações declaradas fora do prazo).



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