Amigos,
Replico abaixo partes de um excelente artigo publicado pela BBC Brasil, de autoria de Luís Guilherme Barrucho, e que pode ser acessado na íntegra pelo endereço http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/04/130409_inflacao_entenda_lgb.shtml.
Uma ótima e didática explicação sobre a inflação no Brasil e o momento atual! Boa leitura a todos, e um ótimo final de semana.
Artigo: Entenda por que a inflação preocupa no Brasil
Luís Guilherme Barrucho - BBC Brasil em São Paulo
Atualizado em 10 de abril, 2013 -
10:38 (Brasília) 13:38 GMT
Os recentes sinais de crescimento acelerado da inflação - que nos
últimos 12 meses já acumula alta de 6,59%, acima do teto da meta, segundo o
IBGE - não tem afetado apenas o bolso dos brasileiros, como também preocupado
economistas, que criticam a forma como o governo vem lidando com o aumento
generalizado dos preços. Para especialistas ouvidos pela BBC Brasil, o país vive, atualmente, o
"pior dos mundos", com crescimento baixo e inflação em alta. Eles avaliam que, para eliminar os dois problemas, o Brasil precisará de
um "forte ajuste".
Para explicar por que a inflação voltou a ser o centro das atenções na
agenda econômica brasileira, a BBC Brasil preparou uma lista de perguntas e
respostas.
1) Por que a inflação voltou a preocupar?
A inflação é um velho inimigo da economia brasileira. Depois de anos de
hiperinflação, em 1994, com a adoção do Plano Real, a taxa anual caiu de forma
significativa. Em junho daquele ano, quando a nova moeda foi lançada, a taxa mensal foi
de 47,43%. No mês seguinte, caiu para 6,84%, posteriormente, em setembro, para
1,53%.
Hoje em dia, o Brasil trabalha com um sistema de metas de inflação
anual. O centro da meta para 2013, estabelecido pelo Conselho Monetário
Nacional, é de 4,5% , mas o Banco Central (BC) admite, ainda dentro da meta, uma variação de
dois pontos percentuais para cima e/ou para baixo.
Nos últimos 12 meses encerrados em março último, segundo os dados divulgados
pelo IBGE, a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumulou alta de 6,59%, estourando o teto
da meta. Foi a primeira vez que isso ocorreu desde novembro de 2011, quando o
aumento em igual período foi de 6,64%.
A alta do índice em março já era prevista por analistas, mas contribuiu
para aumentar os temores de que a estratégia adotada pelo governo para combater
a inflação esteja sendo ineficiente e as autoridades estejam evitando tomar
medidas "mais duras" nesse sentido, como uma eventual subida dos juros. O aumento também torna mais distante o objetivo de manter a inflação em
2013 mais próxima do centro da meta. Em 2010, a taxa foi de 6,5% e, no ano passado, de 5,84%. O BC prevê, no entanto, segundo seu último relatório trimestral, que a
inflação deva encerrar este ano em 5,7%.
"A alta da inflação é extremamente prejudicial ao país. O aumento
dos preços mina o poder de compra da população, especialmente das classes mais
baixas que, com menos dinheiro no bolso, corre mais riscos de ficar endividada
e inadimplente", afirma à BBC Brasil Samy Dana, professor de economia da
FGV-SP. "Além disso, cria um cenário de incertezas para o investidor, que,
desconfiado dos rumos da economia do país, tende a suspender ou adiar
investimentos, prejudicando o crescimento", acrescenta.
2) O que explica a alta da inflação?
Inúmeros fatores explicam a escalada inflacionária no Brasil. De maneira
geral, a origem está no desequilíbrio entre a oferta e a demanda.
Segundo o governo, foi o que aconteceu com os alimentos, já considerados
os principais vilões para o aumento da inflação. O tomate, por exemplo, dobrou de preço nos últimos doze meses, com alta
de 122,13%. No mesmo período, a farinha de mandioca registrou alta de 151,39%,
segundo dados do IBGE. Existe um consenso de que parte da culpa é das condições climáticas. Nos
Estados Unidos, a seca elevou o preços dos grãos, ao passo que, no Brasil, a
seca no Nordeste e as chuvas na Região Sul também afetaram o valor cobrado
pelos alimentos no mercado doméstico.
Porém, para especialistas, o aumento dos preços também é explicado pelos
rumos mais recentes da economia brasileira, bem como problemas estruturais do
passado. "Nos últimos anos, o mercado de trabalho passou por uma melhora
importante, e a taxa de desemprego vem caindo. Paralelamente, devido ao déficit
de mão de obra, os salários subiram, e esse aumento de renda também contribuiu
para acelerar o consumo", explica a economista Alessandra Ribeiro, da
consultoria Tendências, especialista em inflação. "O problema é que, ao passo que a demanda cresceu, a produção vem
caindo e o nível de investimento (para ampliar a capacidade produtiva), também.
Com mais pessoas consumindo e menos produtos disponíveis, o desequilíbrio é
inevitável e se reflete nos preços", acrescenta. "A pressão por maiores salários também elevou, por sua vez, o
repasse de custos", conclui. Por fim, o Banco Central diminuiu os juros, incentivando a expansão do
crédito e, consequentemente, o consumo das famílias.
3) Como o mercado tem reagido?
Para especialistas, os rumos recentes da economia brasileira vêm criando
um cenário de incertezas que afasta o investidor. "Há um aumento do nível de desconfiança em relação ao Brasil, tanto
do ponto de vista macroeconômico quanto microeconômico. De um lado, existe uma
sensação de que o BC tem perdido autonomia sobre a condução da política
monetária. De outro, há um crescente enfrentamento por parte do governo com o
setor privado", afirma Ribeiro. "Prova disso é que o nível de investimentos no Brasil tem caído na
comparação com outros países emergentes. O problema é que, sem novos aportes
financeiros, nossa produção fica comprometida, o que trava o crescimento e gera
desemprego", acrescenta ela.
4) O que o governo tem feito?
A principal aposta do governo para a redução dos preços tem ocorrido por
meio de desonerações tributárias. Recentemente, por exemplo, o governo prorrogou a alíquota reduzida do
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre carros até dezembro deste
ano. Além disso, desonerou a cesta básica, a energia elétrica e a folha de
pagamento de inúmeros setores, entre outras medidas. A mais recente foi a decisão de zerar o PIS/Cofins de smartphones de até
R$ 1,5 mil fabricados no Brasil.
Por essa lógica, o governo espera que as empresas repassem ao consumidor
a redução do custo com os tributos. A medida, entretanto, é criticada por especialistas. Para Dana, da FGV-SP, a política é "arbitrária" ao privilegiar
determinados setores da economia. Já para Ribeiro, da Tendências, o efeito das desonerações não passa de
um "alívio temporário", porque "o preço, ainda que caia a curto
prazo, se desenvolve de acordo com as condições de mercado". Além de fazer reduções de impostos, a equipe econômica já negociou com
os governos estaduais o adiamento dos reajustes em transportes coletivos. Já o
Banco Central não descarta um possível aumento dos juros.
5) Quais medidas devem ser tomadas?
Para Dana, da FGV-SP, o governo deveria estimular a concorrência, o que
puxaria os preços para baixo. "As margens de lucro praticadas no Brasil ainda são bem maiores do
que as de outros países, como os Estados Unidos, onde o próprio mercado elimina
os ineficientes", afirma.
Segundo Ribeiro, da Tendências, já passou da hora de o Banco Central
subir a taxa de juros. "Na minha avaliação, o BC cometeu um erro grave em 2011, quando
decidiu reduzir os juros na marra apesar de os primeiros sinais do aumento da
inflação. Agora, precisa recuperar o tempo perdido". Há um consenso, entretanto, de que o governo deveria corrigir os
gargalos estruturais da economia brasileira, o chamado "Custo
Brasil", o que contribuiria para aliviar a pressão sobre os preços.
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