sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Termômetro Econômico - Julho de 2011

O mês de Julho acendeu o sinal vermelho com relação à valorização progressiva que o Real vem tendo em relação ao Dólar, e a adoção de medidas por parte do governo brasileiro é imperativa para evitar uma crise cambial e a própria desindustrialização do país. Outros indicadores também são destaque: inflação (mantendo-se baixa e constante), taxa de juros (que deve chegar próxima a 13% em 2011), inadimplência (com preocupante recorde no índice), PIB (com projeções em torno de 4% para 2011), e mercado de trabalho (com quase 1,5 milhão de novos empregos gerados).

  • Real fecha julho em R$ 1,5540: O Dólar fechou julho em R$1,5540, ante R$1,5620 verificado em junho. Já o Euro fechou o mês a R$2,2394, ante R$2,2667 em junho. Especificamente com relação ao Dólar, a previsão para a taxa de câmbio, feita pelo Banco Central para 2011, continua em R$1,60, conforme o último Boletim Focus de julho. Mas a expectativa de economistas do mercado é de que o Dólar chegue a R$1,50 até o final do ano. De qualquer maneira, a previsão já apontada no Termômetro Econômico de junho, de que o Brasil corre riscos de que uma crise cambial aconteça, parece estar se consolidando de maneira mais rápida do que previam os analistas do mercado.
  • Valorização do Real acelera desindustrialização do país: Para os consumidores, Dólar barato (ou Real valorizado) é bom para viajar ao exterior, comprar produtos importados e/ou derivados de insumos importados. Mas para a economia como um todo, em especial o setor industrial, tal valorização reduz as receitas de empresas exportadoras, e provoca um movimento de desindustrialização, transformando algumas companhias de produtoras a ‘montadoras’ de produtos. Para alguns economistas, entre as indústrias mais afetadas pela valorização do Real estão as metalúrgicas, as produtoras de sucos de laranja e as de carnes. Além dos efeitos para as exportadoras, as companhias que atuam em setores no mercado doméstico acabam tendo, também, uma grande queda de competitividade, pois acabam perdendo mercado para produtos importados, que ficam mais baratos, comparativamente, aos produtos nacionais. Essa situação acaba levando empresas de alguns segmentos da indústria a se transformarem em simples montadoras de produtos, ou seja, passam a ver vantagens em comprar partes do produto final em outros países e montar tudo aqui. De fato, a desindustrialização vem sendo acelerada pelo fato do Real estar se valorizando muito. Dados recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que, em junho, a produção das empresas industriais recuou e a utilização da capacidade ficou abaixo do usual pelo sétimo mês consecutivo. Como resultado, a economia acaba tendo uma participação maior de comércio e serviços e vai perdendo um pouco da produção, tornando-se mais vulnerável e menos capacitada. O Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) calcula que, em 2004, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tinha uma participação de 30,1% da indústria, percentual que teve uma ligeira queda para 26,8% em 2010. Ao mesmo tempo, o setor de serviços aumentou sua fatia de 63% para 67,4%. 
  • Governo Brasileiro deve anunciar medidas para conter efeitos da valorização do Dólar: Dentre as soluções esperadas pelo mercado, estão a desoneração de impostos para alguns setores mais afetados e/ou considerados estratégicos para a economia brasileira, medidas de defesa comercial, investimentos em infraestrutura (energia, transporte, telecomunicações) e incentivos para pesquisa e desenvolvimento (inovação e tecnologia). Vale ressaltar que, mesmo com o cenário preocupante apontado acima, as empresas devem saber tirar proveito da situação, aproveitando, por exemplo, o Dólar baixo para comprarem máquinas e equipamentos modernos, e dessa forma, se tornando competitivas em processos e produção de bens com tecnologia de ponta. Outra saída é aproveitar o Dólar baixo para reduzir custos de importação de insumos.
  • IPCA de julho fica em 0,16%: Índice que mede a inflação oficial brasileira foi de 0,16% em julho, ante 0,15% verificado em junho. Com isso, o resultado em 2011 aponta uma inflação acumulada de 4,04%, acima da taxa de 3,10% verificada no mesmo período do ano passado. Considerando os últimos 12 meses, o IPCA situa-se em 6,87%, continuando pelo 4º mês consecutivo acima do teto máximo estipulado pelo governo para a inflação anual brasileira (que é de 6,50%).
  • Grupo ‘Alimentação e Bebidas’ foi determinante para a manutenção do IPCA em julho: Este grupo apresentou deflação entre junho e julho de -0,34%. No mês anterior, já havia apresentado deflação de -0,26%. Interessante verificar que este grupo, antes responsável pela aceleração inflacionária verificada no final de 2010 e início deste ano, agora também é responsável por “segurar” o IPCA em patamares inferiores aos verificados anteriormente. Confirmou-se, portanto, as projeções feitas pelo Termômetro Econômico, ainda em maio, de que a pressão sobre os preços dos alimentos iria recuar a partir do 2º semestre. Já os grupos ‘Transportes’, ‘Saúde e Cuidados Pessoais’ e ‘Despesas Pessoais’ foram os que apresentaram maiores variações positivas em julho, sendo os principais responsáveis pela inflação verificada no mês.
  • Banco Central mantém previsão de inflação para 2011 em 6,31%: Pela 3ª semana consecutiva, o Banco Central, através do seu Boletim Focus, manteve a projeção para a inflação brasileira em 2011 de 6,31%. Vale ressaltar que esta mesma projeção era de 6,15% no início de julho. Como já destacado no Termômetro Econômico do mês passado, a partir de outubro os preços tenderão a ser pressionados novamente, devido ao período de final de ano. E parece que tal pressão já começa a mostrar sinais a partir deste mês...
  • IGP-M apresentou deflação de 0,12% em julho: O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), a chamada “inflação do aluguel”, desacelerou novamente em julho, fechando o mês em -0,12% (2º mês de deflação seguida, já que em junho havia fechado em -0,18%). Com isso, o IGP-M acumula alta de 3,03% nos primeiros sete meses do ano, e nos últimos 12 meses, de 8,36%. A projeção do Banco Central, em seu último Boletim Focus, aponta o IGP-M encerrando 2011 em 5,63%, queda de 0,38% em relação à projeção feita no final de junho. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em julho houve desaceleração do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) – deflação de -0,22% - e do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – deflação de -0,13%. Apenas o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) apresentou variação positiva de 0,59%, mas bem abaixo das taxas verificadas em junho (+ 1,43%) e em maio (+2,03%). A tendência é que o IGP-M continue desacelerando, pelo menos no próximo bimestre, alinhando-se com o IPCA.
  • COPOM eleva mais uma vez a taxa SELIC para 12,50% ao ano: Na última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), realizada em 19 e 20 de julho, a taxa SELIC foi elevada mais uma vez em 0,25 ponto percentual, chegando em 12,50% ao ano, e confirmando as expectativas do mercado antes da decisão. Desde janeiro, quando começou o ciclo de alta dos juros, a SELIC já subiu 1,75 p.p. Pela 3ª semana seguida, o boletim Focus, do Banco Central, projeta para o final de 2011 a taxa SELIC em 12,75%, ou seja, ainda se espera pelo menos mais um aumento de 0,25 p.p. para as próximas reuniões do COPOM. A próxima reunião acontecerá nos dias 30 e 31 de agosto.
  • Inadimplência do consumidor tem a maior alta em 9 anos: Conforme pesquisa da SERASA, a inadimplência do consumidor apresentou alta de 7,9% em junho. No 1º semestre de 2011, subiu 22,3% em relação ao mesmo período de 2010, sendo o maior aumento dos últimos 9 anos. Segundo a entidade, o crescimento da inadimplência se deu em quase todas as modalidades de pagamento pesquisadas, com destaque para a inadimplência com bancos, as dívidas não bancárias (cartão de crédito, financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços como telefone e fornecimento de energia elétrica e água), e os cheques sem fundo. De acordo com os economistas da SERASA, “no momento o consumidor enfrenta uma redução no poder aquisitivo e o crescente endividamento dificulta o pagamento das dívidas assumidas anteriormente”. Para eles, o forte crescimento da inadimplência no 1º semestre de 2011 é justificado pelos efeitos da política monetária de controle da inflação, com alta dos juros, do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e encarecimento do crédito. A perspectiva é de, no mínimo, manutenção de uma alta taxa de inadimplência para os próximos meses, conforme já destacado na última edição do Termômetro Econômico de junho, pois os consumidores ainda precisam pagar as dívidas contraídas no final do ano passado (quando o consumo estava muito aquecido), e ainda continuarem custeando os gastos presentes.
  • Banco Central aumenta estimativa para o PIB 2011: De acordo com o último Boletim Focus de julho, o Banco Central aumentou em 0,2 p.p a previsão do Produto Interno Bruto (PIB) para 3,96% em 2011, ante previsão de 3,94% feita no final de junho. O governo continua firme na sua projeção de crescimento econômico entre 4,5% e 5,0% para este ano. Como já alertado em outras edições deste boletim, é importante observar o comportamento do governo nos próximos meses quanto ao controle de gastos, controle da inflação e, principalmente, a valorização do Real frente ao Dólar. Com relação aos dois primeiros aspectos, os indicadores parecem apontar para uma estabilidade, mas com relação à valorização da moeda nacional, até o presente momento as estratégias utilizadas pelo governo têm-se mostrado ineficientes para conter tal valorização (como comentado no início deste boletim).
  • País já gerou quase 1,5 milhão de novos empregos em 2011: Entre janeiro e junho deste ano, segundo os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram criados no Brasil 1.414.660 novos empregos formais. No mesmo período do ano passado, entretanto, o saldo era de 1.634.357 novos postos. A esperança do Ministro Carlos Lupi é que o 2º semestre do ano apresente resultados, no mínimo, semelhantes ao 1º semestre, permitindo que a meta de 3 milhões de novos empregos formais em 2011 seja atingida.

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