quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

TERMÔMETRO ECONÔMICO - Novembro de 2011

Publicado por Frederico Mafra
Consultor Sênior da GLOBAL ON Consultores Associados e professor do IBMEC e FEAD

O mês de novembro destaca os resultados do PIB brasileiro do 3º trimestre de 2011, que apresentou variação nula, confirmando as expectativas do mercado de que os efeitos da crise mundial, de fato, chegaram ao país. O governo, em contrapartida, anunciou medidas para estimular o consumo interno e os investimentos, via subsídios fiscais. O Real voltou a se desvalorizar frente ao Dólar, e o COPOM reforçou a estratégia de redução gradual da taxa SELIC, cortando em 0,5 ponto percentual os juros básicos da economia. Outros indicadores de novembro: inflação (voltando a se acelerar), inadimplência (com índices maiores que 2010) e mercado de trabalho (com saldo positivo no mês, mas 38,4% abaixo do desempenho obtido em 2010).
  • PIB Brasil do 3º trimestre tem variação nula: O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil apresentou variação nula (0,0%) no 3º trimestre de 2011, em relação ao 2º. O destaque positivo foi o setor da Agropecuária, que cresceu 3,2% no período. Indústria e Serviços, em contrapartida, apresentaram variação negativa de -0,9% e -0,3%, respectivamente. Na comparação com o 3º trimestre de 2010, o PIB cresceu 2,1%. No acumulado de 2011 (janeiro até setembro), o PIB brasileiro apresenta expansão de 3,2% em relação a 2010, alcançando R$1,05 trilhão em valores correntes.
  • Banco Central reduz estimativa para o PIB em 2011: De acordo com o último Boletim Focus de novembro, o Banco Central reduziu mais uma vez a previsão do PIB para 2011, de 3,29%, verificada no início do mês, para 3,09% no final deste mês. Para 2012, a projeção também é de queda, de 3,50%, feita no início do mês, para 3,48% neste último Boletim Focus. Segundo vários economistas do mercado, as projeções estão convergindo para um PIB em torno de 3% até o final de 2011. Para tanto, a economia teria crescer mais do que 0,8% no 4º trimestre, e há um entendimento do mercado que a economia brasileira apresentará uma modesta recuperação neste final de ano, superando a estagnação verificada no 3º trimestre. O Ministério da Fazenda trabalhava com uma previsão de crescimento em torno de 3,8% para 2011, considerada muito otimista pelo mercado. Mas o próprio Ministro Guido Mantega já admitiu que o PIB não chegará a este índice, por conta não só do desempenho nulo do 3º trimestre, mas também pela revisão dos valores feita pelo IBGE para os dois primeiros trimestre do ano. Para 2012, o governo trabalha com previsão de, no mínimo, crescimento do PIB de 4%, podendo chegar a 5% dependendo de algumas novas ações governamentais, como uma expansão do investimento público, e de outras já confirmadas, como o aumento previsto para o salário mínimo em janeiro, as desonerações do SIMPLES e do Plano Brasil Maior, o impacto defasado das reduções na taxa SELIC ocorridas no 2º semestre deste ano, e a perspectiva de crescimento do crédito livre em 2012.
  • Governo anuncia medidas para estimular consumo interno e investimentos: O Ministério da Fazenda anunciou um pacote de medidas de estimulo à economia, voltadas ao consumo doméstico e aos investimentos, que envolve desonerações fiscais para o setor produtivo e para o mercado financeiro. No caso da Indústria, foi reduzido o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca (que inclui geladeiras, fogões e máquinas de lavar). Para se ter uma idéia, o IPI cairá de 4% para 0% no caso dos fogões, de 15% para 5% nas geladeiras e congeladores, de 20% para 10% nas lavadoras automáticas, e de 10% para 0% nos tanquinhos. Com relação aos investimentos, o governo anunciou a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no crédito ao consumidor, de 3% para 2,5%, além de eliminar o IOF de 2% que incide sobre a aplicação de investidores estrangeiros em ações na BOVESPA. O setor de alimentos também foi beneficiado, com a redução do PIS/COFINS para as massas, de 9,25% para 0%. Em termos de renúncia fiscal, as medidas adotadas pelo governo irão representar, pelo menos, R$ 1 bilhão em 2012. As principais redes varejistas já anunciaram que irão repassar a redução do IPI para os consumidores. Pelos cálculos da FECOMERCIO-SP (Federação do Comércio de São Paulo), os descontos seriam de 3% a 5% nos preços finais dos produtos. Para completar, a Caixa Econômica Federal anunciou, depois das medidas do governo, que irá liberar R$ 5 bilhões de crédito para aquisição de eletrodomésticos, móveis, eletroeletrônicos e outros bens de consumo.
  • Real fecha novembro em R$ 1,8109: O câmbio vem se mostrando muito volátil nos últimos meses. Depois de ter apresentado alta desvalorização perante o Dólar no mês de setembro (fechando o mês em R$1,8800), o Real voltou a se valorizar fortemente em outubro (quando fechou cotado a R$1,704). Em novembro, porém, voltou a se desvalorizar também fortemente, fechando o mês em R$1,8109 (conforme dados do Banco Central). Com isso, o Dólar encerrou novembro com alta de 4,73% em relação a outubro, e valorização em 2011 de 9,81%. O Real também se desvalorizou perante o Euro, fechando o mês de novembro em R$ 2,4416, ante R$2,3610 verificado em outubro. Especificamente com relação ao Dólar, a previsão para a taxa de câmbio, feita pelo Banco Central para 2011, está em R$ 1,79, conforme o último Boletim Focus de novembro. Para 2012, a taxa de câmbio está estimada em R$ 1,75.
  • COPOM reduz mais uma vez a taxa SELIC para 11,00% ao ano: Na última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), realizada em 29 e 30 de novembro, a taxa SELIC foi reduzida mais uma vez em 0,50 ponto percentual, chegando a 11,00% ao ano, reforçando a estratégia do Banco Central em reduzir os juros para estimular o crescimento econômico e mitigar os efeitos da crise econômica mundial no Brasil. Mesmo com a redução da SELIC, o país segue liderando o ranking mundial de juros reais, com uma taxa de 5,1% (descontada da taxa de 11% a inflação dos últimos 12 meses). Somente um corte de 3,5 pontos percentuais retiraria do Brasil da 1ª posição entre os maiores pagadores de juros do mundo (ranking que envolve 40 países). A próxima reunião do COPOM acontecerá nos dias 17 e 18 de janeiro de 2012, e uma continuidade na redução da taxa de juros ajudaria o governo a economizar com o custo da dívida pública federal (remunerada pela SELIC) e no comportamento do mercado de câmbio, contribuindo para moderar um avanço na valorização do Real frente ao Dólar. O Boletim Focus, do Banco Central, projeta para o final de 2012 a taxa SELIC em 9,75%.
  • IPCA de novembro fica em 0,52%: Índice que mede a inflação oficial brasileira voltou a se acelerar em novembro, passando de 0,43% em outubro para 0,52% neste último mês. Com isso, o resultado em 2011 aponta uma inflação acumulada de 5,97%, acima da taxa de 5,25% verificada no mesmo período do ano passado, praticamente 1,5% acima do centro da meta estipulada pelo governo para o ano, que era de 4,5%. Considerando os últimos 12 meses, o IPCA situa-se em 6,64%. A expectativa do Banco Central é de que o IPCA encerre 2011 em até 6,5%, no topo da meta de inflação estipulada pelo próprio governo. O avanço do IPCA em novembro não condiz com o discurso do Banco Central de que a inflação está sob controle e em desaceleração por causa da crise econômica mundial e o baixo crescimento econômico brasileiro. A inflação parece estar ancorada no crédito interno, estimulado pelo próprio governo para aquecer a economia. Como o Banco Central deve manter a estratégia de continuar reduzindo a taxa SELIC em 2012, a solução poderia ser, justamente, segurar um pouco mais o crédito. Trata-se de uma decisão difícil e controversa, mas a prioridade deveria ser controlar a inflação ou fomentar o crescimento econômico? Para refletir...
  • Grupos ‘Alimentação e Bebidas’ e ‘Despesas Pessoais’ foram os vilões da inflação em novembro: Os preços dos ‘Alimentos e Bebidas’ (de 0,56% em outubro para 1,08% em novembro) causaram impacto de 0,25 ponto percentual no IPCA, com destaque para as carnes. Nas ‘Despesas Pessoais’ (de 0,22% em outubro para 0,88 em novembro), os destaques foram serviços de manicure, cabeleireiro e costureira.
  • Banco Central mantém previsão de inflação para 2011 em 6,50%: Através de seu último Boletim Focus de novembro, o Banco Central manteve a projeção para a inflação brasileira em 2011 (com base no IPCA), de 6,50%, feita no início do mês. Para 2012, a projeção é de 5,49% (queda de 0,10 ponto percentual em relação à previsão do início do mês, que era de 5,59% para o próximo ano).
  • IGP-M desacelera pouco em novembro: O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), a chamada “inflação do aluguel”, desacelerou pouco em novembro, atingindo 0,50% no mês, frente 0,53% verificado em outubro. A taxa ficou dentro das estimativas dos analistas do mercado. No ano, o IGP-M acumula alta de 5,22%, e de 5,95% nos últimos 12 meses. A projeção do Banco Central, em seu último boletim Focus de novembro, aponta o IGP-M encerrando 2011 em 5,75%, 0,03 ponto percentual abaixo da previsão feita no final de outubro (5,78%). Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em novembro houve desaceleração do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), de 0,68% para 0,52%, mas aceleração nos outros dois índices que compõem o IGP-M – alta de 0,43% no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), ante 0,26% verificado em outubro, e alta de 0,50% no Índice Nacional de Custo da Construção Civil (INCC), frente a 0,20% verificado no mês passado.
  • Inadimplência aumenta 5,9% em outubro: Conforme apontou o indicador da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil, o número de consumidores inadimplentes incluídos no Serviço de Proteção ao Crédito registrou aumento de 5,9% em outubro frente a setembro deste ano. Em comparação a outubro do ano passado, a alta foi de 4,78%. No acumulado do ano, a alta é de 5,21%, sendo tal resultado reflexo do ciclo de aperto monetário empreendido pelo Banco Central até julho, e a conseqüente aplicação contínua dessa medida no custo médio do crédito praticado pelo mercado.
  • País gerou 126.143 novas vagas de emprego em outubro: Segundo os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram criados no Brasil, em outubro, 126.143 novas vagas de emprego com carteira assinada. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a geração de empregos no Brasil recuou 38,4%, sendo este o pior resultado para outubro desde 2008. No acumulado do ano até outubro, foram criadas 2.241.574 novas vagas, sendo este montante também abaixo do resultado registrado em igual período de 2008, quando foram criados 2.337.161 de empregos com carteira assinada. Como projetado por este boletim desde julho, a meta deste ano ficará abaixo dos 2,5 milhões de novos empregos gerados. O próprio governo, que inicialmente projetava 3 milhões de novos empregos formais no Brasil em 2011, reduziu sua meta para 2,7 milhões, e agora já admite um saldo em torno de 2,4 milhões. Especificamente com relação aos dados do mês de outubro, os principais setores responsáveis pela expansão do emprego no Brasil foram os Serviços (+77.201 novos postos), o Comércio (+60.878 novos postos), a Construção Civil (+10.298 novos postos) e a Indústria da Transformação (+5.206 novos postos). O que se observa, de fato, é que a crise internacional e a perspectiva de baixo crescimento da economia brasileira para os próximos meses já está afetando o mercado de geração de empregos no país.
  • Economia mundial está à beira de uma nova e profunda recessão do emprego: Esta é a conclusão do “Relatório sobre o Trabalho no Mundo 2011: os mercados a serviço do emprego”, divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Segundo o estudo, o mercado de trabalho no mundo se encontra no limite de seis meses que leva para uma desaceleração econômica impactar o emprego. Ainda conforme o relatório, 2/3 das economias avançadas e metade das economias emergentes e em desenvolvimento já atravessam um movimento de desaceleração do emprego (como já podemos observar no Brasil). A OIT calcula que nos próximos dois anos a economia mundial teria de criar 80 milhões de postos de trabalho para que o cenário retomasse os índices verificados antes da crise financeira internacional de 2008. Destas vagas, 27 milhões teriam que ser criadas nos países desenvolvidos, fato que se mostra cada vez mais difícil de acontecer. Segundo a entidade, se foram mantidas as tendências atuais, seriam necessários pelo menos cinco anos para que o emprego voltasse aos níveis anteriores à crise nas economias avançadas, um ano depois do previsto pela própria OIT no relatório do ano passado. Uma das conseqüências do aumento do desemprego é o correspondente aumento da tensão social em todo o mundo. Alguns dados corroboram esta perspectiva: em mais de 45 dos 118 países industrializados a tensão social vem aumentando, e 69 países registraram aumento no percentual de cidadãos que perceberam uma piora no seu nível de vida em 2010 comparado com 2006. Como soluções, a OIT defende o fortalecimento de programas em favor do emprego e investimento na economia real, além de aumentos nos salários do trabalhador.

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