sexta-feira, 18 de março de 2011

Termômetro Econômico - Fevereiro de 2011

Os destaques de fevereiro, no Ambiente Econômico, referem-se ao 2º aumento da SELIC no governo Dilma para 11,75%, e à divulgação dos dados do PIB de 2010, quando a economia brasileira cresceu 7,50%. O IPCA de fevereiro continuou elevado, e o governo deverá escolher entre combater a inflação já, abrindo mão de um crescimento mais elevado neste ano, ou optar pelo crescimento de 5%, mas se contentar com uma inflação próxima ao teto da meta do governo, de 6,5% ao ano.
  • IPCA de fevereiro fica em 0,80%: Índice que mede a inflação oficial brasileira foi de 0,80% no 2º mês do ano, ante 0,83% verificado em janeiro. Com isso, o IPCA já acumula alta de 1,63% em 2011, acima da taxa de 1,54% verificada no 1º bimestre de 2010. Considerando os últimos 12 meses, o IPCA situa-se em 6,01%. O grupo Educação, com alta de 5,81% e contribuição de 0,41 ponto percentual, foi responsável por 51% do IPCA de fevereiro, refletindo os reajustes típicos do início de ano. Outro grupo que contribui para o índice de fevereiro foi o de Despesas Pessoais, que teve alta de 1,43% no mês, e participação de 0,15 p.p. no IPCA final. O último Boletim Focus de fevereiro, divulgado pelo Banco Central, apresentou projeção de 5,80% para a inflação em 2011, ante 5,64% anunciado no início do mês, o que vem confirmando fortemente a expectativa de vários analistas do mercado de que a inflação no final do ano chegue próxima ao limite superior estabelecido pelo governo (de 6,50%).
  • Preços no atacado continuam subindo e IGP-M de fevereiro fica em 1,0%: O IGP-M subiu para 1,0% no 2º mês do ano, impulsionado novamente pela aceleração no ritmo de alta dos preços no atacado. Em janeiro, já havia subido 0,79%. Com isso, já acumula alta de 1,79% no 1º bimestre do ano, e nos últimos 12 meses, avançou para 11,30%. O resultado de fevereiro (assim como aconteceu em janeiro) também ficou acima do previsto pelos analistas consultados pelo Banco Central no último Boletim Focus, quando era esperada elevação de 0,90% no mês.
  • Banco Central eleva novamente a taxa SELIC para 11,75%: Em sua 2ª reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (COPOM) decidiu, por unanimidade, elevar novamente em 0,50 p.p. a taxa SELIC, para 11,75% a.a.. Com a decisão, a taxa alcançou o maior nível desde janeiro de 2009, quando os juros estavam em 12,75%. Alguns analistas do mercado esperavam até uma alta maior, de 0,75 p.p., mas todos acreditam que o ciclo de aperto monetário deverá continuar, até que os índices de inflação dos próximos meses demonstrem arrefecimento. O governo acredita, por outro lado, que os efeitos das ações macro prudenciais implementadas no final do ano passado também contribuam para a desaceleração da inflação. Além disso, o detalhamento dos cortes no orçamento de R$ 50 bilhões, anunciado pelo governo, deve ajudar para tal controle inflacionário. O consenso e a expectativa, entre os economistas, são de que o Banco Central seja mais assertivo no combate à inflação, evitando a consolidação de um patamar inflacionário em níveis elevados.
  • PIB Brasil de 2010 cresce 7,50%: Segundo dados do IBGE, o PIB brasileiro cresceu 7,50% em 2010, sendo este o maior índice desde 1986. Em valores correntes, alcançou R$3,675 trilhões, elevando o PIB per capita para R$ 19.016,00, alta de 6,5% em relação a 2009, que foi de R$ 16.634,00. Entre os setores da economia, a indústria apresentou alta de 10,1% no PIB, enquanto a agropecuária cresceu 6,5% e os serviços 5,4%. Para o economista e professor da PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda, um dos fatores que contribuíram para o bom resultado no ano passado foi o conjunto de medidas adotadas pelo governo em 2009 (no auge da crise), quando houve aumento de gastos públicos, redução de impostos e expansão do crédito, medidas estas que contribuíram para um aumento do consumo interno. O economista acrescenta, no entanto, que a variação expressiva do PIB em 2010 também se deve, pelo menos em parte, ao fato de a economia brasileira ter encolhido no ano anterior, quando a crise global provocou uma retração de 0,6% no PIB. Já o professor de Macroeconomia da FGV-SP, Robson Gonçalves, observa que os números de 2010 indicam uma recuperação da economia ainda acima do nível de 2008 (quando o PIB cresceu 5,2%), algo que outros países ainda não conseguiram. Na comparação com o resultado do PIB de outros países em 2010, a alta do Brasil é superior à dos Estados Unidos (2,8%) e da União Européia (1,7%). No entanto, o país ficou atrás de China (10,3%) e Argentina (9,1%).
  • Expectativas para o futuro são positivas, mas Banco Central projeção do PIB para 2011 cai para 4,30%, índice inferior às previsões de janeiro: O crescimento do PIB brasileiro de 2010, com os dados das Contas Nacionais divulgados pelo IBGE, confirma que, após a rápida recuperação dos efeitos da crise financeira de 2008/2009, a economia brasileira entrou em novo ciclo de expansão. A demanda doméstica continuou sendo o grande suporte da economia, com o consumo das famílias registrando crescimento de 7,0%, o sétimo ano consecutivo de expansão desse componente, que tem sido impulsionado pela expansão do crédito, do emprego e da renda. A Formação Bruta de Capital Fixo, uma boa medida do investimento, cresceu 21,8% em 2010, um desempenho que sugere que o empresariado nacional está confiante nas perspectivas para a economia brasileira neste e nos próximos anos. Entretanto, de acordo com o último boletim Focus de fevereiro, o Banco Central rebaixou a previsão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de 2011, para 4,30%, ante previsão anterior de 4,60% no início do mês.
  • Crescimento e inflação baixa são objetivos compatíveis?: Para Cláudia Safatle, diretora de redação do Valor Econômico, crescer 5% e derrubar a inflação para o centro da meta de 4,50% (como almeja o governo) são objetivos incompatíveis. Para cumprir um, é preciso sacrificar o outro. Para ela, com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 7,5% em 2010 e pressupondo um INPC de 6% este ano, o reajuste do valor do salário mínimo de 2012 será de 13,95%. O fato é que depois de todo o esforço do Plano Real para desindexar a economia brasileira, o governo Lula superindexou o salário mínimo. E, no momento em que a luta contra a aceleração inflacionária se torna o centro das preocupações, a presidente Dilma Rousseff reforçou o compromisso de reajustar o piso salarial pela inflação passada mais o PIB de dois anos anteriores. Com isso, o alcance do centro da meta de inflação tornou-se uma tarefa nada trivial. Cálculos feitos por analistas de bancos apontam que a economia teria que crescer a uma taxa ligeiramente inferior a 3% para o Banco Central conseguir reduzir a inflação para a meta de 4,5% no ano que vem. Toda escolha, em economia, tem benefícios e custos. Diante desse quadro, o governo teria duas possibilidades: aumentar o esforço da política anti-inflacionária agora - com mais juros e rigor fiscal -, aceitando um crescimento mais modesto, ou adiar a convergência da inflação para o centro da meta para 2013 por exemplo, sabendo que quanto mais demorar, mais difícil será atingi-la. Inflação elevada por muito tempo estimula os mecanismos de indexação, que já não são poucos, tornando os preços mais resistentes à queda.
  • Considerações do Banco Central sobre Inflação X Crescimento: Nas considerações do Banco Central para optar pelo aumento gradual da taxa SELIC constam vários argumentos: o estoque de medidas já tomadas cujos efeitos se acumulam este ano, a desaceleração do PIB desde o fim de 2010, a redução da taxa de ocupação no mercado de trabalho, e a crença do mercado de que o esforço fiscal deste ano pode produzir um superávit de 2,7% do PIB nas contas públicas. Ainda, a correção do salário mínimo deste ano não comportou aumento real e isso retirará poder de compra de praticamente metade da população economicamente ativa que recebe o piso. Até o fim de março 40% dos preços administrados terão sido reajustados e só a inflação desse conjunto de preços deve chegar a 4%. A esperança do governo é que a partir de abril o clima entre os agentes econômicos esteja menos pessimista. Até lá os cortes dos gastos públicos já devem começar a aparecer e o impacto das medidas macro prudenciais do BC vai estar mais claro. Com isso, espera-se também que o ambiente econômico comece a se descontaminar dos ceticismos e descréditos de hoje. A opção pelo gradualismo na política monetária é algo que tem sido questionado por especialistas em regime de metas para a inflação. Há quem defenda que em casos de deterioração das expectativas, como agora, o melhor mesmo é aplicar a receita de Maquiavel: fazer o mal de uma só vez. Diga-se de passagem, essa conclusão já foi feita em edições anteriores do Termômetro Econômico.

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