sexta-feira, 6 de maio de 2011

Termômetro Econômico - Abril de 2011

Em abril, verificou-se que a inflação no Brasil voltou com força, apesar de todos os “esforços” do governo em tentar deter o processo de aceleração. Críticas de diversos analistas e entidades do mercado foram emitidas com relação à falta de autonomia do Banco Central em ser mais rigoroso no combate à inflação (em outras palavras, aumentando de forma mais consistente a taxa de juros) e à interferência “maléfica” do Ministro Mantega na condução da política monetária, a qual deveria ser de competência exclusiva do Banco Central. O Real deve continuar valorizado frente ao Dólar, podendo fechar o ano em R$ 1,50.
  • IPCA de abril fica em 0,77%: Índice que mede a inflação oficial brasileira foi de 0,77% no 4º mês do ano, ante 0,79% verificado em março. Com isso, o IPCA acumula alta de 3,23% em 2011, acima da taxa de 2,65% verificada no mesmo período do ano passado. Considerando os últimos 12 meses, o IPCA situa-se em 6,51%, ultrapassando o teto máximo estipulado pelo governo para a inflação brasileira. O grupo Transportes foi o que mais influenciou a inflação de abril, seguido por Alimentos e Bebidas, Habitação e Saúde e Cuidados Pessoais. O último Boletim Focus de abril, divulgado pelo Banco Central, apresentou projeção de 6,37% para a inflação em 2011, ante 6,02% anunciado no início do mês. Portanto, como vem sendo apontado neste boletim há alguns meses, as medidas do governo para controlar a inflação, denominadas “medidas macroprundencias”, não têm surtido o efeito desejado. Mesmo a contragosto do Ministro da Fazenda Guido Mantega, a solução para o momento deveria ser trabalhar com o mecanismo da política monetária de aumento da taxa de juros, como foi feito no Governo Lula, pelo então Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O mais importante, neste momento, é conter a expectativa de retorno da inflação por parte dos agentes econômicos (empresas e pessoas), pois o que se observa, neste momento, é uma lenta mas gradual volta da espiral inflacionária, alimentada pelas expectativas futuras de que a inflação continuará se acelerando. Em outras palavras, a volta da indexação automática de preços parece querer voltar à tona, depois de 16 anos sendo controlada via Plano Real.
  • IGP-M desacelera para 0,45% em abril: O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), a chamada “inflação do aluguel”, desacelerou em abril, fechando o mês em 0,45%, ante 0,62% verificado em março. No ano, o IGP-M acumula alta de 2,89%, e nos últimos 12 meses, 10,59%. A última projeção do Banco Central, em seu último Boletim Focus de abril, aponta o IGP-M encerrando 2011 em 6,90%. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), no mês passado houve desaceleração do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), enquanto o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiram, puxado pelos grupos Transporte (influenciado pela gasolina e álcool combustível), Alimentação (influenciado pela carne bovina) e pelo custo da mão de obra. Verifica-se, portanto, o mecanismo de repasse de aumento dos preços para a ponta do processo, ou seja, para os consumidores.
  • COPOM eleva a taxa SELIC para 12,00% ao ano: Na última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), realizada em abril, a taxa SELIC foi elevada em 0,25 ponto percentual, chegando em 12,00% ao ano. Entretanto, dois membros votantes do COPOM indicaram a necessidade de um aumento maior, de 0,50 p.p., sendo esta a expectativa de alguns analistas do mercado. Os dois integrantes que defenderam uma alta maior da SELIC entendiam que a manutenção do ritmo de alta – nas duas reuniões anteriores em 2011 a elevação da SELIC havia sido de 0,50 p.p. – mitigaria os riscos de que as pressões inflacionárias se transmitissem para o cenário prospectivo, fato que vinha sendo alertado também em outras edições deste boletim. Mas se a decisão de elevar a SELIC em 0,25 p.p. não foi unanimidade entre os membros do COPOM, em pelo menos uma coisa todos concordaram: a partir desta reunião de abril, o ajuste da taxa de juros no Brasil deverá ser mais prolongado do que o previsto inicialmente. Na Ata do encontro, divulgada uma semana após a decisão, o COPOM afirmou que, de forma unânime, os membros entendem que, “diante das incertezas quanto ao grau de persistência das pressões inflacionárias recentes, e da complexidade que envolve hoje o ambiente internacional, o ajuste total da taxa básica de juros deve ser, a partir desta reunião, suficientemente prolongado”. O COPOM volta a se reunir no próximo dia 7 de junho para definir os novos rumos da SELIC. Entre os analistas de mercado a avaliação é de que o Banco Central deve elevar a taxa em, pelo menos, mais 0,25 ponto.
  • Analistas criticam interferência “exagerada” do Ministro Mantega nas medidas de controle da inflação: Para os críticos da atual política econômica, há uma interferência excessiva do Ministro da Fazenda nas medidas de controle da inflação. Segundo o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, “o Banco Central precisa ter autonomia operacional. Dentro do contexto do regime de metas de inflação, a política monetária tem de ser falada pelo Banco Central, sem ruídos de outros órgãos do governo”. E cobrou um alinhamento de objetivos entre Banco Central e Fazenda. “Não adianta o BC querer controlar a inflação, se a Fazenda não acredita nesse objetivo”. Corroborando com o que já foi alertado em outras edições deste boletim, Loyola afirmou que os ruídos provocados pelos órgãos do governo descredenciam o Banco Central diante do mercado. Também nessa linha, o professor da PUC-RJ e economista da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, afirmou que o Banco Central precisa deter a deterioração das expectativas de inflação, que estão altas “por conta dos ruídos da execução da política monetária”.
  • Banco Central mantém estimativa para o PIB 2011: De acordo com o último Boletim Focus de abril, o Banco Central manteve a previsão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 4,0% para 2011, pela 5ª semana consecutiva. Vale a pena acompanhar as próximas projeções, pois com a necessidade do governo controlar a inflação, a expectativa é que haja uma desaceleração no ritmo de crescimento da economia brasileira, podendo provocar uma revisão para baixo dessas expectativas.
  • Real valorizado fica abaixo de R$ 1,60: O Dólar fechou abril em R$ 1,5730, ante R$ 1,6279 verificado em março. Já o Euro fechou o mês a R$ 2,3326, ante R$ 2,3116 em março. Especificamente com relação ao Dólar, a previsão do Banco Central para 2011 foi reduzida para uma taxa de câmbio de R$ 1,62, conforme o último boletim Focus de abril. Em março, a previsão era da taxa de câmbio fechar o ano em R$ 1,70. Confirma-se, portanto, que as medidas até agora adotadas pelo governo não têm evitado a valorização do Real frente ao Dólar, e já admite-se que a taxa feche o ano mais próxima de R$ 1,50 do que R$ 1,60.

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